A proibição total ou parcial do uso dos celulares nas escolas tem aumentado pelo Brasil. Uma nova pesquisa do Datafolha mostra que a maioria dos pais apoia essa decisão. E você, o que pensa a esse respeito?
62% dos brasileiros com mais de 16 anos disseram ser favoráveis à proibição do uso de celular pelos alunos durante as aulas, e mesmo nos intervalos. Entre os que são pais de adolescentes, esse índice é ainda maior. E 76% acreditam que os aparelhos trazem mais prejuízos do que benefícios ao aprendizado dos jovens.
De acordo com matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo na última semana, foram entrevistadas mais de 2.000 pessoas em 113 municípios do país no início de outubro. A amostra é representativa da população brasileira.
Os dados revelam que a visão dos pais está alinhada com uma série de estudos e pesquisas que reforçam os riscos do uso frequente do celular tanto no aprendizado como na saúde de crianças e adolescentes.
Na última semana a gente tratou especificamente dos impactos negativos do uso de redes sociais na saúde mental dos jovens, especialmente das garotas. Você pode acessar esse texto aqui.
Além do prejuízo no aprendizado, o uso de celular sem controle nas escolas (mesmo que apenas na hora do recreio) pode atrapalhar o desenvolvimento de habilidades sociais dos jovens, aumentar o risco de dependência digital e de diversas formas de violência, como o cyberbullying.
Um estudo recente do Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou que quase 30% das escolas brasileiras já proíbem o uso de celulares, e dois terços delas limitam seu uso. Apenas 7% das instituições de ensino não regulam a utilização dos aparelhos.
Relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) de 2023 alertou sobre os impactos negativos das tecnologias no desempenho dos alunos nas escolas.
Já a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), responsável pela avaliação PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), revelou que quase a metade dos alunos se sentia ansiosa quando ficava longe do celular, e que 65% se distraíam nas aulas por conta das tecnologias.
A questão não preocupa apenas os pais brasileiros. Mesmo os países com os melhores índices de educação têm adotado medidas de restrição do uso das telas e tecnologias no ambiente escolar. França, Holanda, Itália, Reino Unido, Portugal, México, Canadá, além de alguns estados da Austrália e dos Estados Unidos estão nessa lista.
Nos EUA, por exemplo, uma pesquisa do Pew Reserach Center mostrou que 72% dos professores do ensino médio daquele país consideram que a distração trazida pelo uso do celular em sala de aula é um grande problema para o aprendizado.
Por aqui, em janeiro desse ano, a prefeitura do Rio de Janeiro tomou a dianteira e baniu por decreto, com o apoio da população, o uso de celulares nas escolas públicas.
O MEC (Ministério da Educação) está trabalhando em algumas medidas para tentar controlar os impactos negativos do uso de celulares por crianças e adolescentes, inclusive a proibição nas escolas. A expectativa é que esse pacote de ações seja divulgado ainda no mês de outubro.
Existem projetos de lei sendo elaborados e discutidos em diversos estados e no âmbito federal tratando dessa proibição. O desafio, além do banimento, é garantir espaço para que os alunos possam refletir sobre o uso do celular e, também, a possibilidade de que as telas sigam sendo usadas como recurso pedagógico, sob a orientação dos educadores, como aliás já acontece no Rio de Janeiro.
E você? Tem discutido, em casa, com seus filhos, sobre a importância do uso mais moderado das telas e tecnologias, pensando tanto no impacto que o celular pode ter na saúde mental do jovem, bem como na sua atenção, foco, habilidades sociais e aprendizado na sala de aula?
*Jairo Bouer é psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.