Essa semana um grande portal de notícias anunciava cinco séries, com episódios curtos, para você assistir enquanto almoça. Há dois anos, uma importante revista de música e cultura trazia dicas semelhantes. Sendo eu um fanático por séries, concordo que as sugestões são ótimas, o problema é a recomendação das telas bem na hora das refeições. Explico!
Cada vez mais os nutricionistas e médicos enfatizam a importância de prestar atenção ao que se come. Essa atitude básica faz com que a pessoa foque mais no momento da alimentação, e perceba o que e quanto está ingerindo, aumentando as chances de comer alimentos mais saudáveis e com maior moderação.
A sensação de saciedade tem relação não só com a quantidade e a qualidade dos alimentos, mas também com a visualização dos mesmos, com a experiência de poder apreciar cheiros, sabores e texturas, além da percepção da refeição como um momento único e especial.
Quem assiste uma série enquanto almoça pode ficar com os olhos e o cérebro “presos” na trama e nos personagens, sem conseguir dar a devida atenção ao almoço ou ao jantar. Esse impacto pode ser ainda maior se essa série for altamente aditiva (como muitas das recomendadas, fáceis de “maratonar”).
Como consequência, a pessoa tende a comer mais rápido, recorrer a alimentos mais industrializados (mais fáceis de serem preparados e “devorados”, muitas vezes sem nem precisar recorrer a talheres) e, pior, ingerir muito mais do que deveria por não perceber o quanto está consumindo.
Além disso, ao assistir séries ou vídeos rápidos durante as refeições perde-se a oportunidade de interagir com amigos e familiares. As pesquisas sugerem que comer acompanhado reforça os vínculos e as interações sociais e reduz o estresse da vida cotidiana, o que também contribui para uma forma mais saudável de se alimentar.
Da mesma forma que as telas e séries devem ser deixadas de lado na hora das refeições, elas também não deveriam entrar no banheiro nos momentos dedicados, por exemplo, à evacuação.
Os proctologistas têm feito alertas sobre a associação cada vez mais comum entre celular e vaso sanitário, o que faz com que as pessoas passem muito mais tempo sentadas, não foquem no seu objetivo principal naquele momento e, assim, aumentem o seu esforço, o que pode o agravar, por exemplo, quadros de hemorroidas e fissuras no ânus.
Também não é uma boa ideia assistir séries na cama, no momento de ir dormir. Esse hábito traz o risco de uma piora na qualidade do sono e na quantidade de horas de dormidas. Ao invés de ir preparando o corpo e o cérebro para o repouso, as séries podem deixar nossa atenção mais “ligada”, tanto pelo estímulo luminoso da tela como pela própria excitação trazida pelas cenas. Fica mais difícil dormir e, claro, no dia seguinte a pessoa fica mais cansada e com maior dificuldade de foco e atenção. Para completar o ciclo pouco virtuoso, quem está sonolento durante o dia também tende a comer mal.
Moral da história, para garantir mais saúde, bem-estar e qualidade de vida, as séries devem ser vistas e curtidas nos momentos do nosso dia dedicados ao lazer, e não na hora de comer, de ir ao banheiro ou de dormir. E você, qual é sua próxima história? Longe da mesa, claro!
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.
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