Venda de zolpidem terá maior controle no Brasil após casos de dependência

A embalagem de um dos remédios mais usados para a insônia no Brasil vai trazer, em breve, a tarja preta

24 mai 2024 - 05h00

Um dos remédios mais usados para a insônia no Brasil, o zolpidem, vai necessitar de Notificação de Receita B (cor azul) a partir de 1º de agosto. A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) busca um maior controle sobre a venda do medicamento. Na prática, vale dizer que a embalagem vai trazer, em breve, a tarja preta

Antes dessa decisão, as dosagens mais baixas de zolpidem, de 5 mg e 10 mg, podiam ser compradas com receitas brancas em duas vias, o que fazia com quem elas fossem adquiridas com muito mais facilidade. Já as doses mais altas (12,5 mg) já exigiam a dispensação nas farmácias apenas com a receita azul. 

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O zolpidem foi desenvolvido na década de 1980 e vendido a partir da década de 1990 como uma alternativa supostamente mais segura e com menos efeitos colaterais aos indutores de sono, relaxantes e ansiolíticos conhecidos como benzodiazepínicos, classe que inclui medicamentos como diazepam, alprazolam, midazolam, entre outros. O apelo inicial era que com esse hipnótico a pessoa pegaria facilmente no sono, sem ficar com sonolência e letargia no dia seguinte. 

No Brasil, a venda do zolpidem se inicia em 2007. Em 2011, cerca de 1,7 milhão de caixas foram comercializadas. No ano seguinte, o volume aumenta mais de 40%. Entre 2018 e 2022, o salto foi de quase 67% de acordo com a Anvisa. Os últimos dados disponíveis indicam quase 20 milhões de caixas prescritas anualmente, o que o torna o zolpidem um dos medicamentos mais vendidos no país. 

Além do zolpidem, outros remédios para sono bastantes populares, como a zopiclona e a zaleplona, que fazem parte do grupo de medicamentos hipnóticos conhecidos como “drogas Z”, também vão necessitar de receita azul. 

Uso indevido e o abuso das drogas Z

Venda de Zolpidem terá maior controle no Brasil
Venda de Zolpidem terá maior controle no Brasil
Foto: Tunatura/iStock

A mudança de posição da Anvisa se alinha com as diretrizes implantadas em mais de 80 países, e tenta minimizar o uso indevido e o abuso das drogas Z. Muita gente consegue o remédio sem receita, pega emprestado de colegas ou familiares, ou ainda, recorre a profissionais de saúde que não estão habituados a prescrever psicotrópicos. Já para ter o receituário azul, o médico tem que se cadastrar na vigilância sanitária da cidade em que atua, o que se traduz em um maior controle.

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O ideal é que esses medicamentos sejam prescritos por tempo limitado para o tratamento de insônia de curta duração, e que sejam feitas avaliações periódicas sobre a forma e o tempo de uso. 

Como a ação deles é de curta duração, não é incomum que as pessoas aumentem a dose por conta própria para conseguir manter os efeitos, e que elas acabem desenvolvendo um quadro de dependência. Psiquiatras e neurologistas estão cansados de ver na sua prática clínica pacientes que chegam ao consultório tomando 15, 20, 30 comprimidos por dia, com sintomas de abstinência e, muitas vezes, com relatos de sonambulismo, amnésia e até quadros de delírios e alucinações, o que pode inclusive colocar a pessoa em situação de risco para acidentes e outras formas de violência.  

Para o tratamento de insônia de longa duração, o ideal é recorrer a técnicas de terapia cognitiva comportamental (TCC) para o sono, com mudanças efetivas que impactem, de fato, a qualidade do sono e, quando necessário, é importante fazer o tratamento de outras condições que podem estar contribuindo para a dificuldade de dormir, como depressão, ansiedade, alterações hormonais da menopausa, entre tantas outras possibilidades. O uso de hipnóticos (indutores de sono), sejam eles drogas Z ou benzodiazepínicos, deve ser feito apenas para quadros agudos de insônia, no máximo por 3-4 semanas e sempre sob supervisão médica. 

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

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Fonte: Jairo Bouer
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