Comida e bebida são nossa fonte de energia, saúde e também de prazer. E quando desenvolvemos alergia a algum tipo de alimento, muita coisa no nosso corpo muda, e com isso, é preciso aprender a viver de uma nova forma.
Para entendermos mais sobre a alergia alimentar infantil, conversamos com a nutricionista pós-graduada em comportamento alimentar infantil e nutrição pediátrica, Mariana Claudino, que deixou claro que o primeiro passo para identificar qualquer tipo de alergia alimentar é procurar um especialista. "Exames de sangue são importantes, mas o diagnóstico é complexo, já que eles não confirmam nem descartam isoladamente a alergia alimentar. A investigação da história clínica, essa sim é fundamental, já que há reações clínicas que variam, como sangue nas fezes, baixo peso e diarreia, ou reações mais severas, como anafilaxia", explica.
(BOX) É possível ter alergia ao leite materno?
Não, o leite materno não causa alergia. O que geralmente acontece é o bebê apresentar alergia às proteínas que a mãe ingere (como a proteína do leite de vaca, por exemplo). Essas proteínas "passam" pelo bebê através do leite materno.
Atenção e cuidado
O leite faz parte da vida da grande maioria das pessoas, seja a bebida em si ou em diversos alimentos que contam com o item. Caso a criança tenha alergia ao leite, é preciso agir rápido, e isso indica que mulheres que amamentam devem mudar a sua alimentação. "Se o bebê apresentar reações que indiquem alergia ao leite de vaca, a mãe deve, sob supervisão de alergista e nutricionista, retirar leite e derivados de sua alimentação enquanto estiver amamentando, mas nunca deixar de amamentar o bebê. Se a mãe não conseguir amamentar ou não tiver leite, é preciso que ele tenha acesso a outros tipos de leite, sem a proteína do leite de vaca", afirma.
É válido apontar que 10% das crianças em idade pré-escolar são afetadas pela alergia transitória, mas ao crescer, deixa de ter alergia. "A maioria das alergias alimentares na infância são transitórias. Mas muitas delas podem não se tornar tolerantes e a alergia persistir até a idade adulta".
Predisposição à alergia alimentar
De acordo com Mariana, alguns estudos mostram que os fatores ambientais têm exercido influência direta no aumento da prevalência da alergia com certos alimentos. Entre eles, uso excessivo de antibióticos, exposição a alimentos ultraprocessados e transgênicos, baixos índices de aleitamento materno e oferta tardia de alimentos sólidos às crianças.
É possível prevenir a alergia?
O aleitamento materno incentiva a formação do sistema imunológico e é um fator de prevenção, já que o leite materno atua bloqueando antígenos alimentares. "Algumas pesquisas indicam que o tipo de microbiota do recém-nascido é crucial para prevenir o desenvolvimento de alergias alimentares. Um estudo recente apresentou prevalência de alergia alimentar em recém-nascidos por cesárea agendada ou de emergência, quando comparados a bebês nascidos por parto vaginal. Isso acontece em função da forte influência do microbioma para a formação do sistema imunológico", conta.
Além disso, outros estudos trabalham com evidências que mostram que a diminuição do contato com microorganismos e infecções na primeira infância estão diretamente ligadas ao aumento da prevalência da alergia alimentar. "A oferta de alimentos além do leite materno ou fórmula infantil para bebês menores de 6 meses não é recomendada", completa a nutricionista.
Durante a gestação, a mãe também pode contribuir para evitar a alergia do bebê. Entre as diretrizes da World Allergy Organization (WAO) está a sugestão do uso de probióticos para gestantes com alto risco de terem filhos alérgicos. Entretanto, essa orientação deve ser feita de forma individualizada. "Além disso, a dieta da gestante tem papel fundamental na formação do microbioma e do sistema imunológico do bebê: dietas restritivas não têm efeito protetor preventivo para alergias alimentares - ao contrário, podem prejudicar a resposta imune do recém-nascido. Portanto, a gestante não deve excluir leite de vaca, ovo, trigo, entre outros alérgenos, da sua alimentação", aponta Mariana.
Diferença entre alergia e intolerância alimentar
"Os termos "alergia alimentar" e "intolerância alimentar" causam confusão, principalmente quando estamos falando de leite de vaca. Muitas pessoas falam "alergia à lactose" e isso não está correto. A lactose, que é o açúcar do leite, não causa alergia alimentar, já que o desenvolvimento dos sintomas da intolerância à lactose não envolve o sistema imunológico. Já o que causa alergia são as proteínas do leite, por isso o termo APLV (alergia à proteína do leite de vaca). Apesar de alguns sintomas parecidos, os mecanismos são diferentes", explica a nutricionista. (BOX)
Fenilcetonúria
A fenilcetonúria é uma doença que tem relação com alteração genética rara (afeta aproximadamente 1 a cada 10.000 pessoas) e envolve o metabolismo de proteínas. "Uma pessoa com fenilcetonúria apresenta alteração na função de uma enzima específica que tem a função de processar o aminoácido fenilalanina", explica Mariana.
Os recém-nascidos que portam a doença não apresentam sintomas ao nascer, mas sem o tratamento adequado, começam a surgir nos primeiros meses de vida os sinais da doença, que podem variar conforme o caso. "Estes bebês não conseguem desenvolver o sistema neurológico se não forem tratadas adequadamente. A lesão resultante do acúmulo de fenilalanina acarreta retardo mental grave, convulsões e hiperatividade", alerta a profissional.
Existe cura?
Infelizmente a doença não tem cura, mas é possível tratar desde que o diagnóstico seja feito o mais breve possível, e assim evitar graves consequências no desenvolvimento cerebral. De acordo com a nutricionista, a triagem dessa doença no Brasil é realizada por meio do conhecido "Teste do Pezinho". O exame deve ser feito entre o 3º ao 5º dia de vida do bebê, e com o diagnóstico confirmado, será necessário seguir uma dieta especial por toda a vida com baixo teor de fenilalanina (presente nos alimentos que contêm proteína).