A condição pode dar as caras desde os primeiros meses de vida. Cuidadores precisam ser orientados sobre as restrições
A alergia alimentar é uma condição que pode afetar milhares de pessoas em diferentes fases da vida. Na maioria das vezes, a reação alérgica acontece logo após a ingestão do alimento, podendo causar diversos sintomas como irritações gastrointestinais, cutâneas e até respiratórias. Para as crianças, especialmente nos primeiros meses - ou até anos - de vida, isso pode gerar incômodos intensos e, de início, difíceis de serem identificados.
O cuidado com os pequenos que precisam estar restritos a determinados alimentos vai além do trabalho médico. Também é preciso que os ambientes que frequentam tomem as medidas necessárias para que a criança esteja segura, sem se sentir excluída por conta de suas limitações. E esse pode ser um desafio e tanto!
Intolerância x alergias alimentares
Daniela Anderson, pediatra, neonatologista e intensivista infantil, explica que, primeiramente, é preciso diferenciar a alergia da intolerância alimentar - pois isso costuma gerar bastante confusão. "A intolerância alimentar representa uma reação gastrointestinal ao ingerir um alimento, podendo causar distensão abdominal, diarreia e vômitos. Ou seja, a criança não reage bem à digestão desse alimento e acaba, de alguma forma, expelindo ele do seu corpo ou desenvolvendo sintomas gastrointestinais, como a produção excessiva de gases", esclarece.
Por outro lado, as alergias alimentares são uma reação imunológica que libera substâncias do sistema imune do seu corpo em resposta a ingestão de determinados alimentos. "Quando bebê, a primeira reação que pode aparecer é a alergia à proteína do leite, que pode acometer tanto as crianças que recebem fórmula, quanto as que são amamentadas pelo seio materno. Essa é uma doença que pode se manifestar com irritabilidade, em geral em consequência de uma esofagite", explica a pediatra.
Sinais de alergia
Outros aspectos que podem ser observados como reação a alergia à proteína do leite são:
- Aumento do refluxo: "o leite materno, ou de fórmula, quando misturado com o suco gástrico, se torna um conteúdo ácido. Essa acidez, ao retornar para o esôfago, gera na criança uma sensação de dor intensa", aponta;
- Alterações no aspecto das fezes: em geral pendendo para uma coloração esverdeada;
- Assaduras: as crianças podem desenvolver uma assadura perianal de difícil tratamento, já que a acidez nas fezes se torna recorrente;
- Presença de muco ou sangue nas fezes: nesses casos, o pediatra e, às vezes, com auxílio de um gastropediatra, devem acompanhar a família. "Caso sejam bebês em aleitamento materno exclusivo, os médicos devem orientar a exclusão de leite e derivados. E, quando crianças, alimentá-las por fórmulas infantis, recorrendo às fórmulas extensamente hidrolisadas para uma melhora do quadro", explica a médica.
A cada nova fase, uma nova descoberta
Após esses primeiros meses, Daniela explica que, com a introdução alimentar, a criança começa a se expor a outros alimentos que também podem desencadear reações alérgicas. "Existe um período, dos 6 aos 9 meses, que nós chamamos de janela imunológica. É nesta fase que devemos apresentar para os bebês os alimentos potencialmente alergênicos, pois isso faz com que eles tenham uma menor chance de desenvolver uma alergia futura", explica a pediatra.
Nesse caso, as manifestações das alergias alimentares podem ser do trato gastrointestinal, como diarreia, distensão abdominal ou vômitos. Mas também podem ser cutâneas, com irritações na pele. "Em algumas crianças isso ocorre só na pele oral, ou seja, apenas no local onde o alimento entrou em contato. Já em outras pode acontecer o 'rash cutâneo', em que a pele do corpo todo pode ficar avermelhada e até mais grossa - algumas vezes descamar", pontua.
Outras manifestações possíveis das alergias alimentares são as respiratórias. "Algumas crianças vão ter desconforto respiratório broncoespasmo (comumente conhecido como chiado no peito), induzido por determinados alimentos", completa Daniela.
A vida pós-diagnóstico das alergias alimentares
Agora, vamos falar sobre o dia a dia dessa criança convivendo com as alergias alimentares. Com o diagnóstico estabelecido, devemos pensar nos cuidados especiais que esse pequeno vai precisar para garantir a ele segurança e qualidade de vida onde quer que esteja. Daniela aponta a importância da família orientar, além da própria criança, todos os adultos que estejam envolvidos com o seu cuidado. "Se a criança fica com uma avó, com uma babá, ou se ela vai para escola, é importante que todos os adultos responsáveis conheçam quais são os alimentos aos quais ela não pode se expor."
Além disso, é importante conversar com a equipe que prepara as refeições e, se possível, visitar o local onde preparam os alimentos. Uma estratégia eficaz é solicitar o cardápio com antecedência e indicar as adaptações necessárias.
"Peça para o pediatra, ou para o médico que tiver acompanhando o caso, para que ele escreva uma carta para a creche, ou escola, de um modo geral, com as orientações de quais são os alimentos que a criança não pode ingerir e nem ter contato", orienta a especialista.
Para cuidar, é preciso acolher
A segurança no ambiente escolar precisa ser o resultado da colaboração entre a família e a escola, para que juntas proporcionem um ambiente acolhedor, mesmo com restrições. Quanto mais eficaz for esse acolhimento às crianças com alergia alimentar, menor será o risco de se sentirem excluídas ou até envolvidas em situações constrangedoras, como o bullying por parte dos seus colegas. Em algumas situações, a orientação de um psicólogo pode contribuir para o aumento da autoestima de crianças ou adolescentes. Além de auxiliar na convivência com seus colegas e no enfrentamento das demandas cotidianas.