A gestação de uma vida costuma provocar mudanças temporárias no corpo da mulher. Deixa marcas, provoca ganho de peso — abaixo ou acima do esperado — e o impacto disso nem sempre é positivo.
A mulher que é mãe também sofre mais com julgamentos externos, como lembra a psicóloga neonatal Luísa Volpato. "Quando essa mulher se torna mãe, as pessoas tendem a achar que podem falar e fazer o que querem com ela, então julgam de todas as formas. Falam dos corpos delas, falam das formas que elas querem educar ou fazer qualquer outra coisa", pontua a profissional em entrevista ao Terra.
Por isso, não é raro ver mães, especialmente puérperas, com a autoestima abalada. Nas redes sociais, então, esse cenário se torna mais evidente com os julgamentos à distância de um comentário e as comparações que vão desde os corpos à dedicação às crianças, à família e ao trabalho.
Ainda sou uma mulher
Mãe é criticada por ter babá. Criticada por não ter babá. Por voltar a trabalhar ou por ficar com o trabalho exclusivo de cuidar dos filhos. Por não ter recuperado o corpo que tinha antes da gestação ou por se submeter a procedimentos estéticos assim que autorizada.
"É importante lembrar que, antes de ser mãe, ela é uma mulher. Ou seja, desde que nasceu, ela é julgada de todas as formas. Pela personalidade, pela forma que fala, pelo próprio corpo... Quando essa mulher engravida, isso só se intensifica", ressalta a psicóloga.
Luísa explica que a mulher, sempre com um padrão muito alto a alcançar, muitas vezes se vê diante de uma maternidade idealizada a perseguir, o "que humanamente não é possível". É aí que surge o conflito, já que a mãe se percebe incapaz de alcançar esse ideal ao mesmo tempo que é julgada pelo tanto que doa de si.
"Então, como ela vai construir essa autoestima?", provoca a especialista. Autoestima essa que não se restringe à autoimagem, abrangendo também o que o indivíduo pensa sobre si, como avalia suas capacidades, como e o quanto se valoriza.
Maternidade real é caminho para saúde mental
É fácil cair na cilada das comparações nas redes sociais, onde todos podem exibir fragmentos das suas rotinas e explorar suas imagens. Mas quão adoecedora pode ser a influência de estilos de vida tão distantes do seu?
O ginecologista Leonardo Valladão é categórico: não há razão para se comparar. "Cada pessoa vive em um contexto de vida, trabalho e filhos. Muitas mulheres que ganham bebê são profissionais liberais e já no primeiro mês pós-parto tem que voltar a trabalhar num ritmo muito intenso, não tem tempo pra atividade física", frisa o médico, que tem a prática dedicada à humanização no pré-natal, parto e puerpério, ao falar com o Terra.
A psicóloga também lembra que os registros divulgados nas redes sociais podem espelhar uma maternidade idealizada, com uma perfeição que não existe. Por outro lado, cada vez mais mães - famosas e anônimas - se dedicam a retratar também os perrengues e desafios que fazem parte desse momento.
"Essa ideia de mostrar mais como funciona a maternidade é como a gente pode contribuir pra que ela seja mais tranquila, pois é um jeito de fazer com que outras mães se identifiquem. Então, estar nesse meio social é escolher locais e pessoas que falam sobre maternidades parecidas com a sua pode evitar que você se compare com algo que não tem como ser daquela forma", recomenda.
Outro passo indicado é olhar para si com carinho, compreender sua individualidade e seus limites como mulher e como mãe. "A partir disso, você consegue compreender como resgatar sua autoestima, porque não é só autoimagem, você precisa se lembrar o que te faz sentir melhor como mulher".
Pais, parceiros e parceiras, o que tem a ver?
Autoestima é um processo pessoal, mas os pais, parceiros e parceiras podem contribuir para que essa mãe se sinta mais acolhida. Se eles assumem mais tarefas no cuidado dos bebês e da casa, a mulher consegue descansar e ter a chance de olhar para si como um indivíduo além de mãe.