Assim como o restante do corpo, o cérebro também envelhece. E as alterações são não apenas estruturais, mas também funcionais.
Nos cérebros idosos, por exemplo, ocorre uma perda de sintonia entre as regiões do órgão. Em alguns casos, o cérebro chega a diminuir e doenças neurodegerativas passam a dar sinais de que algo não está indo bem.
Especialistas ouvidos pelo Terra recomendam que a melhor forma de cuidar de diminuir os efeitos do envelhecimento é adotar hábitos de vida saudáveis e evitar o estresse e ansiedade. Mas como isso seria possível, se os millennials e a geração Z são considerados uma "geração deprimida"?
Para Marcelo Valadares, neurocirurgião da Universidade de Campinas (Unicamp) e do Hospital Albert Einstein, a alta incidência de diagnósticos de ansiedade, estresse, depressão e outras condições ligadas à pressão por produção, por exemplo, não é um grande problema para o futuro. Pelo contrário: pode significar que as pessoas estão se cuidando mais.
"Mesmo que seja uma geração mais diagnosticada, significa que as pessoas estão se cuidando mais e se tratando mais", argumenta. "Talvez, a nova geração de idosos seja melhor que as gerações antigas, porque hoje existe mais a consciência e a preocupação com o envelhecer de forma saudável".
Doenças estão sendo reconhecidas
A Síndrome de Burnout seria um exemplo do que Valadares defende. Para o neurocirurgião, não estão surgindo novas doenças, mas as doenças que já existiam estão sendo reconhecidas.
"Burnout é um estado de estresse físico e emocional que acredito que sempre existiu, mas nós falhávamos em não reconhecermos isso como uma doença em si", acrescenta.
Por outro lado, a neurologista Letícia Rebello, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília (DF), observa que o volume de responsabilidades e carga de trabalho facilitam a falta de cuidado com a saúde. E é isso o que preocupa em se tratando da próxima geração de idosos.
"Essa rotina intensa com altas demandas, volume de trabalho e competitividade aumenta a sobrecarga no jovem, nessa geração de altíssima produção, que acaba colocando em segundo lugar a saúde", avalia.
A pressão à qual são submetidos e a incidência de transtornos que afetam o cérebro podem trazer consequências para os jovens daqui a alguns anos. Embora não seja possível prever como os corpos irão responder a esse estilo de vida no futuro, Rebello destaca os maiores riscos de desenvolver doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, perdas cognitivas e síndromes demenciais.
"Se você tem uma saúde já prejudicada desde a juventude, certamente vai encontrar o impacto de tudo isso na senilidade", conclui.
População vivendo mais
Apesar de visões diferentes sobre os impactos de distúrbios mentais para o cérebro, os neurologistas concordam que estamos vivendo cada vez mais. Em grande parte, devido aos avanços na Medicina e na Ciência, com o tratamento adequado para doenças, vacinas e medidas de prevenção.
No entanto, o impacto dessa longevidade em nossos cérebros ainda é avaliado por cientistas em todo o mundo. Por isso, é importante se atentar com os cuidados físicos, mentais e emocionais para o cérebro.
O consumo excessivo de álcool, açúcares e alimentos processados podem provocar alterações na capacidade cognitiva e aumento de atividade inflamatória na senilidade, por exemplo. O álcool, em particular, gera alterações profundas nos neurotransmissores, "mensageiros químicos" que transportam, estimulam e equilibram os sinais entre os neurônios - e, consequentemente, interferem nas emoções e na cognição.
"Hábitos de vida saudáveis associados a um sono regular, evitando estresse e ansiedade, são cuidados essenciais para o cérebro", recomenda o neurocirurgião Marcelo Valadares.
*Com edição de Estela Marques.