Impactos do treinamento de sono no cérebro infantil

Isabel Braga é médica, doutora pela Fiocruz, referência em transtornos do sono e autora do livro Noites de Renovação. Confira com exclusividade esse artigo escrito por ela sobre os prejuízos do manejo inadequado do sono em bebês Atualmente, vivemos a popularização dos cursos e livros envolvendo treinamento de sono em bebês. Sobretudo, aqueles em que […]

31 out 2024 - 15h50

Isabel Braga é médica, doutora pela Fiocruz, referência em transtornos do sono e autora do livro Noites de Renovação. Confira com exclusividade esse artigo escrito por ela sobre os prejuízos do manejo inadequado do sono em bebês

Atualmente, vivemos a popularização dos cursos e livros envolvendo treinamento de sono em bebês. Sobretudo, aqueles em que ensinam a colocar a criança acordada no berço, tem levado muitas mães a ideia equivocada de autonomia precoce para dormir. O bebê humano vem ao mundo bastante dependente da família. É quase como uma exterogestação (gestação fora do útero). Provavelmente, isso decorre da desproporção entre o tamanho da cabeça necessário para caber o nosso cérebro e a pelve feminina bípede.

Foto: Revista Malu

Em razão disso, o bebê depende da presença dos pais para seu devido neurodesenvolvimento. O estresse decorrente dessa ausência gera o chamado desamparo aprendido, que leva o pequeno a simplesmente parar de chorar porque ninguém o consola e ele entende que gastar energia para isso não adianta, mas não significa que se tornou autônomo.

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Não é inofensivo!

Além disso, o sono de qualidade é um dos maiores predispositores do QI infantil. Na ausência do afago, o cérebro passa a usar a energia e a aumentar o volume de sangue nas áreas de sobrevivência, reduzindo o aporte para uma área cerebral chamada córtex pré-frontal, relacionada a nossa racionalidade e ao controle emocional necessário para conter as birras.

O método chamado "bebê canguru" coloca os prematuros em contato com os pais ao invés de incubadoras. Esta é uma prova do sucesso das medidas afetivas. Ao observar que, mesmo com o aporte calórico adequado, recém-nascidos na ausência dos familiares não ganhavam peso, teorizou-se que eles estavam sob estresse de abandono e desviando energia para as áreas de sobrevivência. Na presença do calor humano, passaram a ter pesagem considerada adequada para a faixa-etária.

Portanto, compreende-se que dormir adequadamente desde cedo e ter a presença reconfortante do calor humano contribui de sobremaneira para o desenvolvimento da inteligência e do autocontrole futuro da criança.

Revista Malu
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