Mate e 2 beijos? Dez 'carioquices' que SP poderia importar

Depois que São Paulo adotou a venda do "bixxxxcoito Globo", repórter do Terra, que é paulistano e mora no Rio há quase oito anos, cita "carioquices" que poderiam ser importadas - fora do processo de "gourmetização"

27 fev 2015 - 16h28
(atualizado às 17h48)

São 450 quilômetros de distância, quarenta minutos de ponte aérea, mas é como sair do Brasil e parar, sei lá, na Argentina. Duas culturas que possuem bandeiras distintas e, se o português ainda é o idioma oficial, existem os dialetos do "bixxxcoito" e do "e aí, meu, e aí, mano". São Paulo e Rio de Janeiro, as capitais econômica e turística, respectivamente, do Brasil, trazem tantas diferenças que gerou espanto quando uma "relíquia" carioca chegou à capital paulista.

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O biscoito Globo, aquele em versão doce e salgado, vendido na praia, tão tradicional, que já virou patrimônio cultural do Rio, está sendo comercializado oficialmente em São Paulo. Quem diria! Tudo bem que está caro "pra chuchu", a "módicos" R$ 5 em dois mercados paulistanos para a classe A (nas areias de Ipanema e Leblon já está esse preço, é bem verdade, mas na fábrica custa R$ 1), mas pago um café expresso (da máquina aqui do Terra) para o amigo paulistano que tirar uma foto degustando um "bixxxcoito" Globo em plena avenida Paulista!

O fato é que, diante de tal notícia, me foi dada uma missão. Paulistano nato, mas às vésperas de completar oito anos vivendo na cidade maravilhosa - ironicamente, no próximo domingo, no dia em que o Rio completa 450 anos - listo abaixo, depois de quase uma década de convivência intensa entre "os dois povos", as 10 "carioquices" que, sem preconceitos, São Paulo poderia importar do Rio de Janeiro. Veja se você concorda e deixe o seu comentário.

Olha o mate!

Foto: Juliana Andrade / Especial para Terra

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Não poderia deixar de ser o (clássico) primeiro desta lista já que, na base do "futebol sem bola, piu-piu sem frajola, sou eu assim sem você", o mate gelado casa perfeitamente com o biscoito Globo - o carro-chefe desta pauta (furada). Fiquei imaginando a cena agora dos vendedores no sol escaldante paulistano (sim, faz muito calor em São Paulo e é insuportável) caminhando com seus galões-gêmeos, um em cada ombro, gritando: "olha o mate-limão!". Já pensou que irado?

Por que não a cena do vendedor servindo o executivo que, sentado no trono do seu servo engraxate, em plena Avenida Paulista, se refresca pedindo para misturar a limonada com o mate de erva fresca? Ou então o (pseudo) atleta do Parque Ibirapuera, que após aquele jogging "maneiro", se delicia com a mistura e pede um "chorinho". Nota da redação: o assunto em conta não é aquele mate vendido nos supermercados, beleza?

Aqui são dois beijos!

Foto: iStock

Cansei. Tanto cansei de avisar que passei a deixar meus amigos paulistanos se virarem nesta antropológica diferença cultural entre Rio de Janeiro e São Paulo. Passou a ser um "show de vácuo". O carioca sempre espera um a mais - com a cara de tacho - na hora do "muito prazer". Ninguém entende nada e eu dou risada. Achei o melhor custo benefício no final. 

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Mas pensa bem. Dois beijos não são melhores do que apenas um? Você, mulher paulistana fina, vai conhecer um carioca malandro (será?) e com este cumprimento, já tira um dado importante: ele aparou bem a barba dos dois lados? Ou então, as penugens em sua face são selvagens ao meu estilo? Com um só beijo é muito rápido. É bate e volta.

Você, paulistano esperto, sabedor que no Rio de Janeiro tem, sim, muita mulher bonita, não prefere tascar duas bitocas e sentir melhor o perfume dela? Dá tempo até para uma rápida fungada e, quiçá, aquela mãozinha boba no ombro ou mesmo, com um pouco mais de intimidade, nas maçãs do rosto, já prevendo o alvo fatal. Duas cabeças pensam melhor do que uma, quatro mãos escrevem mais do que duas e dois beijos são mais gostosos que apenas um! A menos que...Deixa pra lá.

Relaaaaaxa :)

Foto: iStock

Odeio funk. Respeito quem gosta, mas, repito: odeio funk. Mas MC Sapão, na velha máxima de toda regra tem sua exceção, sempre me trouxe a mente o refrão que reflete bem o estilo carioca - que muito paulistano deveria adotar no seu dia a dia: "eu tô tranquilão, tô numa boa, tô curtindo o batidão, se liga nessa, vem sentir essa emoção, e a mulherada vai descendo...".

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O leitor atento já deve ter reparado que quando você pergunta para o carioca se está tudo bem, ou mesmo dá um bom dia, boa tarde, boa noite, ou se o apocalipse se aproxima, a resposta é quase sempre a mesma: "tranquilão". Com os devidos sinônimos: "tranquilidade", "tranks", e por aí vai. Pois este é um item que, se não vende no mercado, deveria, sim, ser incorporado ao ambiente paulistano: "relaaaaxa". Seja mais tranquilo. Trabalhar é vital, só não mais do que viver.

Polpa de fruta, nãooooooo

Foto: iStock

Tem coisa mais carioca do que você puxar uma cadeira, meter os cotovelos no balcão, fechar os olhos, imaginar três, quatro frutas distintas, e pedir para bater tudo bem gelado no liquidificador? Lembro do que nos meus tempos paulistanos, fato comum era polpa de fruta congelada nesta mistura. Sem comparação. Tudo bem que São Paulo também tem bastante fruta (alô, Ceagesp!), mas outro dia, esperando um ônibus na rodoviária do Tietê, me serviram maracujá congelado!

Claro que não cometeria a heresia de dizer que São Paulo não possui casa de sucos, afinal, a capital paulista em gastronomia é imbatível, mas a fartura do Rio de Janeiro deveria ser incorporada. É uma casa de suco a cada esquina, principalmente nos bairros da zona sul e no centro, com direito ao famoso joelho (o enroladinho de presunto, queijo e afins). Sempre com frutas frescas - os mamões, melancias, bananas, melões, etc, equilibrados simetricamente no balcão, num show de cores à Portinari (exagerei, foi mal), fariam certamente Carmem Miranda morrer de orgulho. E de novo: polpa de fruta, nãããooo!

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Lá vem o sol...

Foto: iStock

"Eeeeeeee, a praia de paulista é o rio Tietê". Canto idiota, safado, que todo paulistano odeia, e todo carioca, claro, ama. Está longe da verdade, afinal, quem é que pega sol no malfadado corredor de fezes? Mas se atentem a mensagem subliminar: "Eeeeeee, praia sem paulista, cadê a vitamina D"? Sol é vida (essa não é uma propaganda do Boston Medical Group, veja bem).

Não tem areia, não tem o mergulho, mas, poxa vida, custa tirar a camisa de vez em quando e deixar todo o leite que nós, paulistanos bezerros adoramos, se transformar na vital vitamina para o nosso corpo? Olha a osteoporose aí! Custa, no final de semana, dar uma corrida no Ibirapuera sem camisa e não parecer um islandês-bjorkiano quando, enfim, estiver no aprazível além-mar? Vale o sol na laje, vale a piscina para os afortunados - só não vale, como diria um ex-atacante corintiano, dar...de ombros para essa tese. Quem é (um pouco) bronzeado é (sempre) mais saudável.

Sem neura de malhação, mas...

Foto: iStock

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Outro dia encontrei um amigo que não revia há tempos de São Paulo (não adianta perguntar que eu não vou falar quem é, ponto final). Não conferi, mas a impressão que dava é que muitas mulheres invejariam os seios naturais (e moles) dele. Claro, não existe um arianismo pregador de corpos másculos no Rio de Janeiro. Tem muita gente barriguda, sim.

O fato é que, posso estar enganado, mas a praia, o calor, as roupas mais leves, fazem com que, obrigatoriamente, as pessoas mostrem mais o corpo. E se estão mostrando mais o corpo, automaticamente existe uma cultura, ou cobrança, maior pela boa forma. Isso foi algo que adquiri no bom sentido. Passei a me cuidar mais. Obviamente, forma física vai além, é uma questão de saúde pública é sempre bom lembrar.

Mas você, paulistano, assim como eu, que zoa o carioca que bota cachecol quando o termômetro atinge siberianos 20 graus, não vai querer ter tudo em cima quando for tirar a roupa a quatro paredes? Sem neura, mas dá para correr onde mora, e fazer abdominal no tapete de casa, pelo menos.

Teoria da ventilação

Foto: iStock

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Já que o assunto é corpo, outra coisa que incorporei do "carioquismo" é usar chinelo de dedo e camiseta regata. Sinto que as pessoas por lá em Sampa, só porque não têm praia a uma distância a pé, insistem com o tênis - e com a possibilidade de micoses e frieiras. E colocar regata, em certas ocasiões, é um crime, sinal de vandalismo-fashion. Viva a liberdade, e deixa o seu corpo respirar mais.

Amarelinhos fartos

Foto: iStock

Não vou entrar na velha discussão que o táxi no Rio de Janeiro é (supostamente) mais barato, porque por aqui as distâncias percorridas são menores - e todo ano a Prefeitura aumenta a tarifa e me revolta os taxímetros demorarem tanto tempo para serem aferidos, a ponto de os motoristas usarem aquela tabelinha, que gera tanta desconfiança nos turistas, para corrigir o preço para cima.

O fato é que são cerca de 33 mil táxis circulando no Rio de Janeiro. Dei uma rápida busca na internet e descobri que a frota paulistana tem 34 mil "branquinhos". Com um território bem maior para percorrer. No Rio, é muito mais fácil você sair na rua, acenar e entrar no "amarelinho" rumo ao seu destino.

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São Paulo você tem aplicativo para isso, claro, mas e se acabar a bateria do smartphone? Sem falar que carro branco é cor comum, e não se enxerga a longa distância tão bem, mesmo com os sinalizadores, ainda mais durante a noite. Portanto, viva os amarelinhos! Que podem ser vermelhinhos, azulzinhos, o que for, mas bota uma cor mais chamativa aí, Haddad!

Carnaval de (ar) rua (aça)?

Foto: Ellan Lustosa / Futura Press

Adoro a Vila Madalena (ah, Filial, ah, Quitandinha, ah, Matrix!) e vi com espanto as cenas de selvageria no carnaval paulistano. Estava empolgado, vendo que o movimento estava crescendo por lá - o Sargento Pimenta tinha tocado no pré-Carnaval, por exemplo, na rua. Mas quando vi o confronto entre PM e foliões, bateu o sentimento de que ainda é preciso um clima de aceitação para o Carnaval de rua e de melhor organização - que aqui no Rio de Janeiro, por mais que tenha gente urinando na rua, existe, é consolidado e devidamente apoiado pela Prefeitura.

Um voto para a língua portuguesa

Essa eu mesmo confesso que já fui contra, e já até "gastei" alguns cariocas, como eles mesmos se referem para a gíria de zuação. Mas como eu precisava reunir 10 itens para essa lista, e este é o último deles, fico com a língua portuguesa e troco o "jóóóóó ken pô!", pelo "pedra, papel e tesooooooura".

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Nota da redação: o repórter já garantiu que continua jogando "dois ou um" para desempates ou formação de duplas/trios no carteado, ao invés do carioca "zerinho ou um", e jamais em sua vida, JAMAIS, utilizará a palavra "adedanha" para definir quem vai para o gol primeiro na pelada. Aqui é "deeeedos", mano!

Fonte: Terra
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