'Não conta para sua mãe': disse a avó, a tia, o amigo e o abusador

Sabe quando você dá um doce a uma criança e imediatamente fala: "Não conta para sua mãe!"? A psicóloga e especialista em neuropsicologia, Patrícia Peixoto, revela que toda vez que falamos isso, ajudamos os pequenos a se sentirem mais ansiosos e preocupados. "Quando se pede […]

26 set 2024 - 16h00
(atualizado em 27/9/2024 às 11h27)
Sabe quando falamos para uma criança: “Não conta para sua mãe!”? Toda vez que falamos isso, os ajudamos a se sentirem mais ansiosos
Sabe quando falamos para uma criança: “Não conta para sua mãe!”? Toda vez que falamos isso, os ajudamos a se sentirem mais ansiosos
Foto: Revista Malu

Disse a avó, a tia, o amigo e o abusador

Sabe quando você dá um doce a uma criança e imediatamente fala: "Não conta para sua mãe!"? A psicóloga e especialista em neuropsicologia, Patrícia Peixoto, revela que toda vez que falamos isso, ajudamos os pequenos a se sentirem mais ansiosos e preocupados. "Quando se pede para a criança guardar um segredo dos pais, algumas apresentam alteração na alimentação, no sono e na idas ao banheiro. Ela acaba internalizando que ela precisa guardar as informações e isso se reflete nesses sintomas. Ela sente medo de contar e ser prejudicada por aquilo."

Pequenos mentirosos

Será que falar "Não conta para sua mãe!" ou coisas desse tipo pode fazer com que eles cresçam e se tornem mentirosos? Patrícia afirma que não tem como garantir isso. Mas que eles podem entender que, em algumas situações, é melhor mentir, com o intuito de proteger alguém. "É uma tendência da criança começar a pensar e funcionar dessa forma diferente. Isso vai muito de como ela foi criada e educada, porque, dependendo de como ela aprendeu seus valores familiares, isso vai gerar muito mais ansiedade do que aprender a mentir", completa.

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Uma porta de entrada para abusadores

Pedir para que as crianças escondam segredos, ao dizer "Não conta para sua mãe!" as deixam ansiosas e conflituosas, pois se sentem obrigadas a proteger essa pessoa. E isso pode ser uma porta de entrada para os abusadores. Já que o que eles mais precisam é que os pequenos guardem os abusos para si mesmos. "Por isso é muito importante sempre falar para a criança que, tudo que contarem para ela, ela pode e deve contar aos pais."

Patrícia ainda destaca que existem muitos livros que podem ser usados para falar com os mais novos, desde pequenos, sobre abusos e segredos - de adultos e outras crianças -, justamente para protegê-los contra qualquer situação. "Se alguém falar que não pode contar algo para a mamãe ou o papai, eles vão saber que isso é errado e que eles podem, sim, contar. E nada de ruim vai acontecer, que eles podem confiar em você. Mas, claro, eles precisam se sentir seguros. Porque se acharem que vão te contar e essa situação vai te deixar bravo, eles não vão confiar em você."

Mudança de comportamento

Para perceber se há algo de errado acontecendo com os filhos, Patrícia indica alguns sinais que eles podem apresentar. "A criança começa a desviar do assunto, dar respostas confusas, sem coerência, conta uma história que não faz sentido. Também é possível perceber através de uma mudança na rotina: alimentar, sono, fala, não querer conversar com você, não te olhar nos olhos. Todos esses são sinais de alerta!"

Cristiane Vaz de Moraes Pertusi, doutora em Psicologia e Desenvolvimento Humano, explica que os pais ou responsáveis também devem olhar para si mesmos para entender se essas mudanças comportamentais podem ter a ver com a forma com que lidam com os filhos. "Os pequenos são reflexo da comunicação dos adultos, agem pelo exemplo dos mais velhos. Observe se você está muito agitado, se você se comunica com os filhos e se você reserva tempo de qualidade para estar com eles. Observe se é uma criança curiosa, que explora, se você o deixa explorar o mundo, ser espontâneo, ou se você é muito crítico e acaba cerceando a comunicação dela."

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"No mundo moderno, os pais não têm tempo de qualidade e estão sempre apressados, não tem tempo para escutar a criança, para explorar junto com o seu universo junto dela. Os pais não são curiosos e dificilmente demonstram interesse pelo universo infantil", destaca a doutora.

Revista Malu
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