Não existe "uso seguro" de anabolizantes

O uso crescente dos esteróides em uma sociedade que faz culto ao corpo perfeito esconde consequências graves

16 jan 2025 - 13h08

Para algumas pessoas, tabu, para outras, um estilo de vida. O uso de anabolizantes tem sido um dos problemas mais crescentes na sociedade que busca o corpo perfeito a qualquer custo - a custo até da própria vida. Atletas da década de 60 e 70 usavam esteroides para melhorar o desempenho nas competições. Hoje, muitas pessoas veem neles grandes aliados do apelo estético 'atlético' muito desejado. Além disso, hoje em dia há uma facilidade muito grande em adquirir esse tipo de produto, especialmente pela internet. Como o nutricionista, fisiculturista e influenciador digital Rodrigo Góes alerta: "Com um arrasta pra cima, a droga chega na porta da sua casa".

Foto: Revista Malu

Mas o que muitas pessoas ignoram - ou não tem total ciência - é que essas substâncias, derivadas sintéticas da testosterona, podem acarretar diversos problemas. Os perigos variam desde alterações no humor, até infertilidade e doenças cardiovasculares.

Publicidade

Cada vez mais

Não há um registro exato do número de pessoas que fazem uso dos esteroides anabolizantes. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a estimativa é que 3,3% da população no país está inserida nessa realidade, sendo 6,4% homens e 1,6% mulheres - seja usuária ocasional ou frequente -, até 18,4% entre esportistas recreacionais, 13,4% entre atletas, 12,4% entre a população carcerária e 2,3% entre estudantes do ensino médio.

Anabolizantes são proibidos!

A Lei nº 6.368/1976 e a ANVISA proíbem o uso e a venda de anabolizantes esteroides sem prescrição médica no Brasil, controlando substâncias com potencial de dependência. As autoridades consideram crime a comercialização sem autorização, permitindo o uso apenas com prescrição médica para tratamentos específicos.

O que são, de fato, os anabolizantes?

Ao contrário do que muitos imaginam, anabolizantes não foram desenvolvidos para desempenho ou estética. Os esteroides anabolizantes (EA) são drogas que têm como função principal a reposição de testosterona (hormônio responsável por características que diferem homem e mulher).

Marcial Pereira, Médico do Esporte, explica que, originalmente, a recomendação dos esteroides era feita apenas para fins terapêuticos que necessitassem reverter baixos níveis de testosterona, uma condição conhecida como hipogonadismo. Ou então, para pessoas que estão acamadas e/ou perderam grande quantidade de peso, massa e de força muscular. "Essas situações envolvem pessoas internadas a longo tempo, como as que têm queimaduras graves. Ou pessoas com a chamada caquexia ou sarcopenia, que são perda de peso e perda de força muscular, que não podem ser usados em casos específicos de alguns tipos de câncer ou pacientes com AIDS", exemplifica o especialista. 

Publicidade

Porém, nem mesmo a indicação de um médico em casos de necessidade livra o paciente dos possíveis efeitos colaterais adversos, que podem ser agudos e rápidos, ou crônicos. Inclusive, Marcial destaca: "Não existe dose de segurança em termos de saúde relacionado ao uso de anabolizantes."

Sintomas perigosos

Alterações de humor, comportamento irracional, maior agressividade e irritabilidade estão entre as ocorrências emocionais mais frequentes associadas ao uso de esteróides. Dentre os colaterais mais comuns no corpo, também estão a queda de cabelo, crescimento de pelos em mulheres, ginecomastia (aumento da glândula mamária) em homens, além da virilização em mulheres com o aumento de hipertrofia do clitóris. "A infertilidade ou esterilidade nos homens também pode ocorrer com o seu uso", completa.

"As sociedades médicas não recomendam nem incentivam de maneira nenhuma o uso de esteroides anabolizantes."

Estes citados, por si só, já deveriam despertar um sinal de alerta para quem pensa em usar os anabolizantes. Entretanto, a verdade é que as consequências podem ser ainda piores - e até fatais. O médico do esporte, Marcial Pereira, expõe que também é preciso ter conhecimento dos riscos de doenças cardiovasculares. Além disso, há risco de alteração do perfil de colesterol, com redução do colesterol bom, HDL, e um aumento do colesterol ruim, LDL. "O aumento da viscosidade sanguínea, chamado de hemoconcentração, aumenta os riscos de efeitos de fenômenos tromboembólicos, como a existência de trombose ou hematologia. Isso também aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e morte súbita", alerta o profissional. Doenças renais e hepáticas também ganham mais chance de se desenvolver. 

Anabolizantes viciam!

Como qualquer outra droga, os esteróides também causam dependência emocional e psicológica nos usuários. Sintomas como pensamento obsessivo sobre o corpo e o desempenho, além do medo de perder os resultados obtidos, mostram isso. Além disso, com o aumento da tolerância, surge a necessidade de usar doses maiores para ter um efeito que a pessoa deseja, o que torna o uso descontrolado. "Há uma preocupação excessiva com a musculação e com o físico, diminuindo a atenção em outros aspectos da vida, como relacionamento, trabalho, hobbies e atividades prazerosas. Tudo isso começa a ficar em segundo plano em relação ao corpo e à perfeição estética."

Publicidade

É possível parar!

E não é motivo de vergonha ou medo. Afinal, tem como contar com um acompanhamento médico para que esse processo aconteça de forma segura, principalmente pensando em restabelecer o mais rápido possível a produção natural e ideal de testosterona.

"O uso de anabolizantes causa uma supressão da produção natural de testosterona, pois o corpo, ao perceber o excesso dessa substância, reduz a própria produção. O médico explica que a produção de testosterona pode demorar a se normalizar quando o uso é interrompido. Por isso, a atuação de uma equipe multidisciplinar é essencial para monitorar tanto a parte física, quanto a mental. 

Em conclusão, "Para chegar ao ápice de sua forma física de forma natural e saudável, você precisa de acompanhamento médico, nutricional e de um bom preparador físico."  

Revista Malu
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações