O cancelamento nas redes sociais e a comunicação não violenta

25 set 2024 - 06h27
Resumo
O cancelamento nas redes sociais tem sido frequente ao debater temas como racismo, sexismo e discriminação. A comunicação não violenta pode ser uma ferramenta eficaz nessas situações.
Foto: Freepik

O cancelamento nas redes sociais se tornou um fenômeno cada vez mais frequente, especialmente quando o debate envolve temas como racismo, sexismo ou discriminação de forma geral. A ideia de expor e condenar publicamente alguém pode trazer à tona discussões importantes, mas também levanta a questão: será que a comunicação não violenta (CNV) pode ser uma ferramenta eficaz nesses cenários de alta tensão emocional?

Com quase 30 anos de experiência em comunicação corporativa, aprendi o quanto a maneira como nos comunicamos afeta profundamente as relações. Antigamente, expressar sentimentos, especialmente em conflitos, era visto como fraqueza. Hoje, com a CNV, percebemos que o uso adequado das emoções pode criar diálogos produtivos, inclusive em contextos desafiadores como os cancelamentos nas redes sociais.

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A CNV, sistematizada por Marshall Rosenberg, nos incentiva a identificar nossos sentimentos e necessidades, além de compreender as emoções por trás das palavras das outras pessoas. Isso, porém, é especialmente difícil nas redes sociais, onde as interações são rápidas, impulsivas e intensamente emocionais.

A CNV no contexto do cancelamento

Quando uma figura pública faz uma declaração ofensiva, é comum que a reação seja de condenação pública. Essa resposta pode ser importante para destacar injustiças, mas o cancelamento massivo tende a ser punitivo, sem abrir espaço para reflexão e transformação genuína. Ao invés de promover mudanças profundas, ele muitas vezes gera desculpas superficiais e uma reação defensiva.

A CNV propõe uma abordagem diferente, que busca equilibrar a responsabilização com a oportunidade de transformação. Não significa tolerar atitudes ofensivas, mas criar um espaço onde a pessoa que errou possa refletir e aprender com seus erros. Um desafio difícil, mas possível.

5 dicas de CNV para quem deseja protestar nas redes sociais

• Conecte-se com suas emoções antes de reagir: identifique o que você está sentindo e quais necessidades suas foram frustradas.

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• Entenda o que motivou a outra pessoa: o preconceito pode vir de ignorância ou medo. Tentar compreender isso pode ser mais eficaz que simplesmente cancelar.

• Pratique a escuta ativa: leia com empatia os comentários e críticas antes de reagir, tentando interpretar as emoções e necessidades por trás das palavras.

• Cuide da sua comunicação: posicione-se de forma firme, mas sem agressividade. Expresse suas necessidades sem atacar o outro lado.

• Espere o momento certo para agir: evite reagir no calor do momento. Esperar pode resultar em uma resposta mais ponderada.

5 dicas de CNV para a pessoa cancelada

• Ouça com empatia: em vez de reagir imediatamente, tente entender os sentimentos por trás das críticas.

• Assuma a responsabilidade: reconheça o impacto de suas palavras ou ações e evite justificativas superficiais.

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• Seja transparente sobre sua reflexão: compartilhe o que aprendeu e como pretende agir diferente no futuro.

• Ofereça um plano de ação: descreva como mudará suas práticas, demonstrando um compromisso verdadeiro com a transformação.

• Dê tempo ao tempo: mudança leva tempo. Continue demonstrando com ações que comprove que está com disposição genuína a aprender e evoluir.

Equilíbrio entre justiça e diálogo

Aplicar CNV não significa ser conivente com comportamentos prejudiciais. Em vez de focar apenas na punição, a CNV propõe promover um diálogo que incentive a reflexão e a mudança verdadeira.

Dessa forma, o cancelamento nas redes sociais pode se tornar uma oportunidade para educar e transformar, em vez de apenas punir.

Como disse Rosenberg, “por trás de todo comportamento há uma necessidade.” E talvez, se conseguirmos enxergar isso, possamos contribuir para um mundo onde diálogo e justiça caminhem juntos, até nas redes sociais.

(*) Suzeli Damaceno é jornalista com especialidade em comunicação acessível e produtiva, e em acessibilidade digital. É consultora, palestrante, professora na ESPM e coordenadora do Movimento Web para Todos.

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