A cantora Preta Gil enfrenta, desde o começo deste ano, um câncer no intestino. E tem sido no colo dos amigos e da família que a artista tem encontrado força e acolhimento para lidar com o momento, algo que ela faz questão de mostrar nas redes sociais.
“É um carinho que não cessa, que vai lá no fundo do meu coração e que quando não estou bem, são eles quem me abraçam, me dão força e me seguram!”, escreveu no Instagram.
O caso de Preta é um ótimo exemplo de como uma rede de apoio pode transformar a vida de mulheres.
A artista está cercada pelos amigos: Gominho, Carolina Dieckmann, Ivete Sangalo e, claro, pela família: Gilberto Gil, Flora, Bela e o marido Rodrigo Godoy.
No aniversário do amado, a cantora homenageou o companheiro: "Você sempre foi meu colo, meu abraço de conforto, meu parceiro e meu amor para tudo que eu viesse enfrentar, e nesse momento tão difícil não foi diferente."
A mulher só não cuida dela... sem tempo
Infelizmente, nem todas as mulheres experienciam esse laço quando estão doentes, especialmente quando falamos de seus companheiros.
Uma pesquisa americana realizada pelas universidades de Stanford e Utah e pelo Centro de Pesquisa Seatle Cancer Care Alliance indica que a mulher tem seis vezes mais chances de ser abandonada pelo marido após a descoberta de doenças graves, como o próprio câncer.
Isso faz com que o enfrentamento à doença seja ainda mais doloroso, levando a casos de depressão. A antropóloga e pesquisadora do tema "etarismo", Mirian Goldenberg contextualiza que há um forte pensamento enraizado em nossa cultura de que “quem cuida é a mulher”. “Cuida dos filhos, do marido, dos pais, das amigas, ela só não cuida dela mesmo porque não tem tempo”, pontua.
Sobre a filha de Gilberto Gil, que Mirian conheceu em um programa de televisão, a pensadora a descreve como uma mulher muito generosa, amorosa e solidária com outras mulheres. “Quando você é assim, você conquista. Dá vontade de ser amiga da Preta”, acrescenta.
“A maior riqueza que nós temos em todas as fases da vida, mas principalmente na maturidade e nesses momentos que a Preta está passando, são as nossas amigas. Ela prova isso todo dia", afirma a pesquisadora.
A culpa, sempre ela!
Camila Rufato Duarte, advogada, idealizadora do "Direito Dela" e líder do Comitê de Combate à Violência Contra a Mulher do Grupo Mulheres do Brasil JF, complementa que as socializações diferentes em relação ao gênero fazem com que mulheres, além de tudo que falamos, ainda se sintam culpadas quando não cumprem esse papel.
Ela exemplifica com o caso de Arlindo Cruz (que sofreu um AVC em 2017), cuja esposa, Babi, assumiu recentemente estar em um relacionamento. “Ela foi super julgada e segue ao lado dele dando todo o suporte. Agora, se o homem se afasta do lado de uma mulher que adoece, a sociedade compreende”, afirma.
‘Tinder das amigas’
Mirian Goldenberg, que está lançando o livro "Amor, sexo e tesão na maturidade", reforça que mulheres aprendem a cuidar desde que são crianças, já os meninos não. E assim, acabamos amparadas umas pelas outras.
"É uma questão cultural, mas que precisa ser mudada. Com essa sobrecarga, as mulheres ficam cansadas, deprimidas, desamparadas e desesperadas. O pior é esse mau trato que fazemos com nós mesmas, porque estamos sempre em último lugar”, diz a antropóloga.
Em seu perfil nas redes sociais, Mirian criou o "Tinder das amigas". Ele funciona assim: as seguidoras, que são bem engajadas, estão se conhecendo e trocando ideia por meio da rede.
A partir do primeiro contato, elas marcam outros encontros para tomar café, conversar e até mesmo viajar.
“Fico emocionada com isso. Inventei isso porque vi como elas se sentem sozinhas. Meu Instagram é um espaço de mulheres muito maravilhosas, inteligentes, generosas”.
Tem muita vida ainda!
Além da rede de apoio ser importante, não há como não destacar a forma como a própria Preta lida com a doença. Nas redes, por exemplo, ela sempre está refletindo sobre o momento que vive e mostra que apesar do baque do diagnóstico, há possibilidade (e muita!) de vida.
No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, postou uma foto de cara lavada para dar o recado: “Sigamos nossas lutas, celebrando nossa existência, nossa história, nossa força e nossa liberdade de ser quem somos”, escreveu.
O caso de doença da artista a aproxima da realidade de outras mulheres, representando um “rompimento de expectativa”. "Somos treinadas para dar conta de tudo, sermos ‘super-mulheres’. Em uma situação dessa, nos vemos diante de uma fragilidade para qual não estávamos preparadas”, afirma a advogada do "Direito Dela", Camila Rufato Duarte.
“O outro que está do seu lado tem que dar suporte. A gente tem que se despir de cobranças de autoestima também. Não precisamos cumprir expectativas. No fim, somos nós por nós”.
O Terra entrou em contato com Gominho, que deixou o trabalho em Salvador, na Bahia, e se mudou para o Rio de Janeiro para ficar mais próximo da amiga e contribuir no momento, mas via assessoria ele disse que não falaria sobre a relação com a Preta. "São muito amigos, se amam muito e ele está se dedicando a amizade, mas não quer se expor na mídia em relação ao assunto".
Também tentamos falar com Preta Gil, mas equipe da artista informou que ela está se cuidando e não dará entrevistas.