A chegada de um bebê ao mundo é sempre especial, mas desafiadora também. A rotina muda e a família passa a orbitar ao redor do frágil, dependente e fofíssimo pacotinho. De fato, não há nada de errado nisso, a não ser que o casal se torne apenas pai e mãe, em detrimento ao papel de marido e esposa.
Um estudo avaliou o efeito do nascimento do primeiro filho no relacionamento de 218 casais (436 pessoas), ao longo dos primeiros oito anos de casamento. Segundo os dados publicados pelo Journal of Personality and Social Psychology, os casais mostraram uma deterioração repentina do relacionamento após o nascimento do bebê. Em média, três a cada 10 entrevistados relataram brigas sobre os cuidados com o bebê, diminuição na vida sexual e falta do afeto compartilhado anteriormente.
É preciso ter atenção
Algo semelhante aconteceu com a gerente de Mídias Sociais e gestora de tráfego, Bianca Veiga, de 27 anos. "Quando a Amy estava com oito meses, percebemos que havíamos nos tornado o pai e a mãe dela, mas não havia mais aquela convivência romântica. Ele trabalhava, eu ficava em casa com ela. O seio virou alimento, o corpo mudou, a autoestima acabou. Nossas conversas eram sobre as demandas, dormíamos quando ela dormia e o nosso casamento estava em segundo plano", conta.
A neurocientista especialista em comportamento e sono infantil, Jéssica Africano, acredita que o deslumbramento e as preocupações com o bebê sejam comuns, mas o relacionamento do casal não pode ser negligenciado. "A verdade é que a vida muda após a chegada dos filhos e temos que fazer escolhas, afinal, o bebê tem necessidades diferentes das nossas", pontua ela, que ainda completa: "Bebês e crianças pequenas dormem cedo, então o ideal é buscar uma rede de apoio para as saídas noturnas.".
Um processo até o vale night
Bianca conta que foi um processo até que o casal conseguisse sair sozinho para o famoso vale night. "A primeira vez decidimos ir ao cinema no intervalo das mamadas, mesmo tendo começado a introdução alimentar. A Amy ficou com a minha mãe e mesmo sabendo que ela estava segura, não conseguimos aproveitar em nada o passeio", lembra. O casal precisou de um preparo emocional para a segunda tentativa e deu certo, permaneceram fora por quatro horas. Conforme a menina foi crescendo, o tempo fora de casa aumentou. "Hoje ela tem quase dois anos e passa a noite na casa dos avós, quando aproveitamos para sair a sós ou com amigos. Dessa maneira, temos um tempo de qualidade também", comemora a gerente.
Rotina é necessária
Para conquistar o vale night, a neurocientista explica que o ponto principal é desenvolver uma rotina e hábitos de sono saudáveis. "Se o bebê dorme por volta das 19h, os pais podem ficar com ele cerca de 30 minutos antes, tempo suficiente para nutrir o seu emocional. Quando ele adormecer, os pais terão tempo livre para o que desejarem, mesmo que seja em casa", pontua Jéssica que destaca que, em qualquer idade, o princípio é o mesmo. "Reservem um tempo diariamente para momentos de conexão com a criança: conversas, olho no olho, sem telas ou distrações. Além disso, digam o quanto é amada e importante para os pais".
Os compromissos sem as crianças pequenas devem ocorrer, preferencialmente, quando elas estiverem na escola ou dormindo. Para as crianças maiores, os pais podem explicar que têm seus momentos de adultos também, assim como elas têm um tempo com seus amiguinhos. "Quando a criança se sente verdadeiramente amada, os pais podem fazer isso sem culpa", destaca a especialista.