Loura, jovem e com o corpo cheio de curvas. Fosse apenas por estas características, Clara Aguilar, 25 anos, seria apenas mais uma das integrantes da 14ª edição do reality Big Brother Brasil. Mas a profissão da nova “brother” já gerou polêmica na mídia: ela é stripper virtual. Casada e mãe de um menino de um ano, Clara teve fotos e vídeos sensuais divulgados em que ela usa nomes fictícios. A profissão – que não necessariamente inclui fazer programas sexuais no mundo real – já está bastante desenvolvida com shows via webcam para todos os gostos e preços. As profissionais chegam a receber cerca de R$ 20 mil por mês.
É o caso de Ana Stripper, 30 anos, que desde 2006 trabalha no meio virtual: “no início, eu cobrava o valor fixo de R$ 30, fazia dois shows por dia sempre após as 21h e faturava mais ou menos R$ 1.500 por mês. Hoje trabalho 14 horas por dia, meus shows variam de R$ 20 a R$ 60 e faturo entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por mês”, contou Ana. Para chegar ao valor, ela faz 300 exibições mensais, cerca de 10 por dia, entre 10h e 0h30, com “pausas para almoço, jantar, banho e novela”, além de ter um site para assinantes em que compartilha fotos sensuais. A maior parte dos shows acontece após as 20h.
Formada em psicologia e, então, gerente de uma loja de roupas, Ana começou a exibir o corpo na internet aos 18 anos, “por acaso e por diversão” aos amigos de faculdade, academia e do bairro onde morava. “Um peitinho aqui, uma calcinha ali. Percebi que ficar me mostrando na câmera me dava muito tesão, como não tinha namorado na época, aproveitava para me satisfazer com meus amigos”, contou. A história logo percorreu rodas de amigos e três meses depois da primeira exibição ela começou a receber propostas de homens interessados em pagar para ela tirar a roupa em frente a webcam. Ana abandonou profissão e emprego para investir no negócio.
Com Michelly, 32 anos, as coisas aconteceram um pouco diferentes. Ela também sempre gostou de exibir o corpo nas ruas com roupas curtas e ousadas, e também via webcam, sem cobrar nada por isso. A ideia de transformar o hobby em profissão veio do marido de Michelly, que criou o site e fez a divulgação do novo negócio. Michelly fazia programas de swing: “como já vivíamos uma relação liberal foi fácil transformar isso em um negócio que me proporcionou prazer e renda”.
Segundo Michelly, a profissão de stripper virtual ganhou forças com a divulgação das doenças sexualmente transmissíveis. “Se tornou um meio de buscar sexo de uma forma segura. Quem assiste ao meu show sempre chega ao orgasmo, fica satisfeito de uma forma segura não só fisiologicamente, mas também socialmente, pois não corre risco de ser visto entrando em motéis ou nas ruas em contato com garotas de programa”.
Shows
As apresentações de Ana variam de R$ 20 a R$ 60, de acordo com as atividades e o tempo. Os pacotes incluem desde strip-tease, masturbação e penetração vaginal com vibrador até uso de acessórios, fantasias, penetração anal com vibrador, exibição do rosto e microfone para gemidos e sussurros. Segundo Ana, o pacote completo é o mais requisitado, dura 30 minutos e é como se fosse “sexo virtual”. “O pedido mais comum é, sem dúvida, para eu fazer penetração anal com os dedos e com o meu vibrador”. Ela também faz show lésbico com uma amiga. Em algumas apresentações, Ana chega ao orgasmo, mas não é uma regra.
Michelly oferece shows de R$ 25 e R$ 40 com penetrações na vagina ou ânus. Ela também apresenta um show em casal com o marido, vendido no site da stripper. Para a apresentação, a profissional não dispensa “boa maquiagem, cuidado com o cabelo, roupa sensual, internet de ótima velocidade e webcam HD”. Para clientes usuais, ela prepara o show de acordo com o que já sabe que ele gosta: “há os que me querem vestida de enfermeira ou de academia, outros preferem com a roupa do dia a dia”, disse. Sobre quanto é possível ganhar na profissão, Michelly fez mistério: “o céu é o limite”.
Os preços e pacotes de outras profissionais são parecidos com os de Ana e Michelly. A stripper virtual Sara Sabatine, por exemplo, tem shows a partir de R$ 25, com duração de 10 minutos, até R$ 110, de 60 minutos. Já a Bella Stripper, além dos pacotes, oferece a opção de pagamento por minuto, com tempo mínimo de quatro minutos que saem R$ 6. O pacote de show fechado mais simples inclui strip-tease e massagem nos seios com creme por 10 minutos a R$ 10. O mais caro, de R$ 80, dura 20 minutos e inclui strip-tease, masturbação, penetração vaginal com vibrador, anal, massagem nos seios e bumbum. Os pagamentos são feitos, geralmente, no próprio site.
Stripper e prostituição
Segundo Michelly, existe stripper virtual que se prostitui e outras que não. Ana, por exemplo, atende apenas vitualmente e não faz programas sexuais ou qualquer tipo de encontro com seus clientes. Assim como ela, outras profissionais também não saem do mundo virtual, porém, nem sempre são levadas a sério. “Os homens acham que sou garota de programa, me fazem convite para jantar, viajar, namorar e até casar. Criei uma personagem, a ‘Ana Stripper’ e quando desligo o notebook ela não existe mais, por isso não saio com ninguém”, disse ela.
Apenas a mãe, amigas próximas e o namorado sabem da profissão real de Ana, para as demais pessoas ela diz ser professora de dança. Apesar da segurança quanto a ganhar a vida fazendo strip-tease, Ana confessou que não recebe somente elogios, mas também é xingada. "Sou muito bem resolvida e enquanto eu for gostosa e ganhar bem, farei meu trabalho sem me preocupar com o que acham de mim”, afirmou.
Quem são os voyeurs?
Homens entre 25 e 45 anos, casados, com bom nível social e cultural, definiu Ana o perfil de seus clientes. “Eventualmente, atendo casais, mulheres ou (perfis) ‘fake’ de mulheres, que são homens se fazendo passar por mulheres para fantasiar uma relação lésbica”, contou. Michelly atende empresários, famosos, militares, estrangeiros – ela é requisitada por muitos clientes de Portugal -, e jogadores de futebol.
Também existem os casos excepcionais como o de uma noiva que contratou Ana por R$ 500 para uma sessão, sem restrições, com o futuro marido por duas horas. “Ela não permitia que ele tivesse uma despedida tradicional. Fiz tudo o que ele tinha direito, conversamos e até dei conselhos sobre sexo anal. Gozamos e ele foi viver a vida de casado fiel”. Ainda existem os clientes com pedidos excêntricos: “os mais estranhos são os chamados ‘escravos’, que curtem submissão. Um me pediu que eu o ordenasse a colocar roupas femininas e que ele introduzisse um pepino no ânus, sempre acompanhado de xingamentos”, contou Michelly.
Na vida real
“Parecer uma máquina de fazer sexo é algo irreal, muitas vezes quero um pijaminha velho e uma rapidinha de luz apagada”, disse Ana. Segundo ela, o sexo para mulher é muito mais erótico do que pornográfico como é para os homens. “Prefiro o bom e velho papai e mamãe com muito beijo na boca e palavras de amor. (...) Sem ter que interpretar o Kama Sutra a cada transa”, acrescentou.