O que mais vejo no meu consultório de psiquiatria são as pessoas alegando estarem sem concentração. Elas sempre esbarram no mesmo questionamento: "Doutora, será que tenho TDAH (Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade)?".
A verdade é que a maioria das pessoas não tem esse diagnóstico. O grande problema é que estamos sendo devastados por tanta informação e em uma velocidade tão grande que se torna difícil nos concentrarmos em uma única tarefa. Somos bombardeados por tantos estímulos, que nossa mente está cada vez menos capaz de se concentrar e com mais dificuldade em realizar as tarefas. Nos sentimos lutando contra o tempo e fazemos mil tarefas simultaneamente.
Tudo isso nos deixa exaustos e, apesar de estarmos fazendo várias coisas ao mesmo tempo, sentimos que todas elas estão "rasas".
Muitas vezes, não é incomum nos perguntarmos o que acabamos de ler ou entrarmos em um cômodo da casa e perguntarmos: "O que vim fazer aqui mesmo?".
Como a neurociência explica o termo "concentração"?
Na neurociência, o termo "concentração" refere-se à capacidade do cérebro de focar a atenção e os recursos cognitivos em uma tarefa específica, suprimindo distrações e mantendo um estado de atenção intensa. A concentração é fundamental para a realização de tarefas cognitivamente exigentes e para o processamento eficiente de informações. Ela envolve a ativação de várias áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, que desempenha um papel crucial no controle executivo e na regulação da atenção.
Vários fatores podem influenciar a capacidade de concentração de uma pessoa, sendo que algumas têm essa habilidade mais "avantajada" que outras - marcada pela diferenças na estrutura e função cerebral. Além disso, o estresse e noites de sono prejudicadas são responsáveis para detonar a concentração.
Como melhorar a concentração?
Dito isso, para melhorar a sua concentração, é necessário, sim, se cuidar e estar atento aos bons hábitos e a qualidade de vida. Isso inclui boa alimentação, manejo do estresse e os essenciais momentos de pausa. Já que não conseguimos mudar a genética, devemos prestar atenção no meio em que vivemos.
Há também evidências que a prática de técnicas de treinamento mental, meditação, mindfulness, treinamento cognitivo ou prática musical podem desenvolver melhor o controle sobre a atenção e aumentar a capacidade de concentração ao longo do tempo. Essas atividades melhoram a plasticidade cerebral, ou seja, melhoram as conexões entre os neurônios, permitindo que o cérebro se adapte e seja otimizado em áreas específicas.
Para fazer tudo isso, algumas dicas práticas podem ajudar a melhorar a concentração:
1. Jogue: os jogos comuns, como os de tabuleiro, palavras-cruzadas, quebra-cabeças, xadrez e jogos de memória ajudam a treinar o cérebro;
2. Dê um tempo das telas: tente fazer pausas quando não precisar do celular, mantendo o aparelho longe. Também evite a televisão;
3. Fazer pausas melhora o foco: a cada 30 minutos, faça uma pausa curta para evitar a exaustão mental e melhorar a concentração;
4. Respire: técnicas de meditação ou mindfulness envolvem a mente para o treino de se manter no momento presente e fortalecem a habilidade de direcionar a atenção.
5. Mexa-se: a atividade física regular pode melhorar o fluxo sanguíneo para o cérebro, aumentando a clareza mental;
6. Tenha o sono como prioridade: privação de sono prejudica significativamente a concentração;
7. De olho no prato: uma dieta equilibrada e rica em nutrientes pode sustentar a saúde cerebral e a função cognitiva;
8. Olhe para um ponto fixo: escolha olhar para um ponto ou objeto durante alguns minutos para "reiniciar" a mente;
9. Organize-se: fazer listas de tarefas ajuda a estabelecer prioridades e planejar melhor o tempo para evitar a sobrecarga e o acúmulo de tarefas que nos fazem perder a concentração;
Lembre-se que a melhoria da concentração requer prática consistente e paciência. Experimente diferentes técnicas e estratégias para descobrir o que funciona melhor para você e adapte conforme necessário. E se ainda assim você sentir que não está bem, busque ajuda de um especialista, como um psiquiatra ou um psicólogo, pois muitas vezes a falta de concentração pode ser a pontinha de um iceberg maior, podendo sinalizar uma doença psíquica.
Portanto, observe-se e mãos à obra!