Dia do Cabelo Maluco, quando uma brincadeira de criança vira uma competição entre pais

Especialistas chamam a atenção para os cuidados necessários nesta data que é tão especial para os pequenos e dão dicas para que eles possam exercer sua criatividade e aliviar a pressão para os pais

12 out 2024 - 15h53
(atualizado em 14/10/2024 às 12h19)

O Dia do Cabelo Maluco virou febre no Brasil na Semana da Criança. Os pais estão se jogando na criatividade, fazendo cabelos mirabolantes. Inclusive, você já deve ter se deparado com os que imitam um galo, um camaleão e até um ninho com um pintinho de verdade. O momento serve para os pequenos se divertirem com os penteados dos amigos e, apesar de ser novo por aqui, existe desde 2004, quando foi registrado pela primeira vez em San Diego, nos Estados Unidos.

Momento de descontração

A data - assim como era, para os mais velhos, o dia de levar brinquedos para a escola antigamente - se tornou um momento esperado pelas crianças. O psiquiatra, Dr. Wimer Bottura, falou sobre a importância deste instante: "É uma brincadeira interessante. Eu acredito que essa criatividade, essa quebra de regra, no sentido da rigidez, é uma coisa interessante, criativa, e pode fazer as pessoas se divertirem, levar alegria para a escola".

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Pressão para os pais

O Dia do Cabelo Maluco é um dia para expressar a criatividade, mas pode virar competição entre pais; entenda
O Dia do Cabelo Maluco é um dia para expressar a criatividade, mas pode virar competição entre pais; entenda
Foto: Canva Equipes/Javier Sánchez Mingorance / Bons Fluidos

Apesar de tudo estar sendo mostrado na Internet como apenas uma brincadeira, alguns pais resolveram usar suas contas no Instagram para fazer desabafos da pressão que está sendo criada. O influenciador digital, Angelo Silva, publicou uma crítica, sugerindo que quem teve essa ideia não levou em consideração o esforço necessário dos pais. "Como explicar para uma criança que não é possível construir um arranha-céu em sua cabeça? Além das tarefas diárias, como dar banho, vestir e preparar a mochila, ainda nos pedem para criar esses penteados elaborados. No fim, quem acaba enlouquecendo somos nós, os pais", disse.

 

Um instante de atenção

Para a psicanalista Natthalia Paccola, que interpretou o comportamento dos pais pela ótica da psicanálise freudiana, essa dinâmica pode esconder alo que é muito mais profundo. "O que era para ser uma brincadeira divertida acaba se transformando em uma verdadeira competição entre os pais para ver quem é o mais criativo. Freud nos ensinou que o desejo de se destacar, de ser o melhor aos olhos dos outros, pode estar direcionado ao narcisismo dos pais. Essa necessidade acaba sendo projetada justamente nos filhos, como se o desempenho deles nessas brincadeiras fosse o reflexo do valor parental. Essa disputa pode gerar uma pressão desnecessária, tanto para os pais, quanto para as crianças. Porque essas, por sua vez, acabam absorvendo a ideia de que a aprovação externa é o mais importante. Será que isso realmente tem a ver com o bem-estar da criança?", indagou.

Exclusão

Falando em afetar as crianças, sabemos que o bullying entre crianças existe e esta acaba sendo mais uma oportunidade para ele surgir, já que psicólogos afirmam que os pequenos copiam o comportamento dos responsáveis. Um dos exemplos foi o que aconteceu em 2022, no México, com Frida - divulgado pelo site O Segredo - uma menina que escolheu ir com um estilo simples, mas criativo, imitando o macarrão instantâneo. A mãe contou que a jovem chegou chorando em casa, afirmando que as crianças haviam feito uma brincadeira de mau gosto e isso a feriu. "[Ela disse que] não quer mais fazer a semana louca do Dia das Crianças e não quer mais ir à escola por causa dessas crianças", escreveu na publicação. E esse é só um dos casos que têm acontecido com crianças que aparecem no Dia do Cabelo Maluco com opções de cabelo mais comuns ou modestos.

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Concurso nas escolas

Algumas escolas também estão fazendo concursos e desfiles, além de premiar a melhor ideia, como o que aconteceu em uma escola de Goiás, segundo o que contou o G1. Eles premiaram o primeiro colocado com brinquedo e doces. Para Bottura, a competição é algo que tende a surgir naturalmente com o ser humano. "É da natureza, ela é é inerente às ações do ser humano. O bicho é competitivo, né? O leão compete, o boi compete, os bichos competem por domínio. O que nós não podemos é ensinar a competição como um aspecto de superioridade, diminuindo aquele que não ganha", alerta.

Sugestão criativa

Conversamos com alguns outros especialistas da área da saúde mental e eles também apresentaram uma sugestão de criar o penteado do zero nas escolas. A ideia seria usar os materiais escolares pedidos na lista de material para colocar a imaginação das crianças em prática, assim, a brincadeira fica democrática e eles mesmos podem exercer sua criatividade.

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