Premiado diversas vezes como um dos melhores chefs do mundo, o espanhol Ferran Adrià está no Brasil para uma série de palestras e eventos sobre culinária, em parceria com a Telefônica.
Adrià ficou conhecido por usar a tecnologia para transformar pratos e texturas e revolucionou a gastronomia com a introdução de espumas e sabores encapsulados. Mas, mesmo expert em menus tão refinados, o chef garante que qualquer um pode cozinhar e que uma boa alimentação é chave para uma vida feliz e saudável.
Em entrevista exclusiva ao Terra, ele contou que cozinhar exige um mínimo de organização e que o grande segredo para ter sucesso diante do fogão é pensar no que exatamente quer fazer. “É importante comprar os alimentos todos os dias e, ainda no supermercado, vou mentalmente fazendo a comida”, diz.
E, para comer bem, não é preciso grandes esforços, já que para Adrià é possível fazer pratos usando 3 ou 4 euros (cerca de R$ 12,30). Pensando nisso, o chef disponibiliza o aplicativo “Adrià em casa” que ensina como preparar menus por preços baixos.
Culinária brasileira
Adrià já visitou o Brasil algumas vezes e, desde a primeira delas, se encantou com a quantidade enorme de frutas que há por aqui. “A primeira vez que fui à Amazônia foi como conhecer o paraíso. Como é possível ter tanta fruta?”, afirma.
Sobre os pratos que experimentou em solo brasileiro, não destacou nenhum especial, mas como um grande entendedor da culinária, analisou a criação de uma cozinha contemporânea nacional. “O Brasil ainda é muito jovem e muito influenciado por outros países, mas há uma geração de cozinheiros extraordinários, encabeçada por Alex Atala. Acredito que em 10 anos terá uma cozinha brasileira muito original”, diz. Para ele, o mais encantador da cozinha nacional é esperar e analisar este amadurecimento.
O El Bulli
Por anos, Adrià esteve à frente do El Bulli, considerado o melhor restaurante do mundo. Mas, em 2011, decidiu fechar as portas do local para se dedicar a projetos paralelos. No entanto, nas décadas que o local esteve aberto se tornou uma referência da culinária moderna. “O El Bulli é o lugar onde buscávamos que as pessoas vivessem uma experiência e não é era só comer bem, porque isso você pode fazer em milhões de lugares. Nós queríamos que as pessoas questionassem a vida, a felicidade”, diz.
Segundo ele, eram 75 pessoas trabalhando para servirem 50 convidados somente no jantar e, quem não gostasse do cardápio servido, não precisava pagar. “As pessoas amavam ou odiavam”, comenta.
Projetos
O fechamento do El Bulli deu origem a inúmeros projetos paralelos, todos em parceria com a Telefônica. O primeiro é uma fundação que busca fazer pesquisas em gastronomia. Outro é a criação de um espaço cultural chamado de El Bulli 1846, no qual as pessoas podem visitar o restaurante e acompanhar o trabalho feito por lá. O terceiro é o Bullipedia, uma plataforma de reunião de material somente sobre culinária. “É um site de busca como Google”, explica Adrià.
Cozinha x Futebol
Apesar dos inúmeros prêmios, Adrià diz que não existe um restaurante ou chef melhor do mundo, mas existem apenas referências, pessoas que entram para a história com suas inovações. “Não existem melhores restaurantes. Na vida, o importante não é ser melhor, é ser influente”, comenta.
E para explicar melhor a comparação, o torcedor do Barcelona – que, aliás, está encantado com a chegada de Neymar ao time – diz que mesmo com tantos craques, poucos foram mesmo incríveis. “Alfredo Dí Stefano, Messi, talvez Neymar sejam influentes, mas Ronaldinho foi espetacular só por alguns anos e não entrará para a história como uma influência”, diz.