A modelo Nicole Bahls presenteou crianças ribeirinhas com latas de energético em sua passagem pelo Festival de Parintins, no Amazonas, no último fim de semana. O assunto logo repercutiu nas redes sociais e os usuários passaram a discutir os riscos do consumo da bebida, especialmente por crianças.
"Queria ter dado refrigerante, alguma coisa... Só tinha energético. Eu enchi as crianças de energético", disse a modelo. A ação de Nicole, no entanto, não é recomendada. Especialistas alertam que a ingestão de produtos com alta quantidade de taurina sintética e cafeína pode ser prejudicial à saúde, principalmente para crianças e adolescentes.
O perigo para os mais jovens
A pediatra Dra. Patrícia de Mello Correa Friço, formada pela Escola de Medicina de Barbacena (MG), afirma que as propagandas e o comportamento dos adultos influenciam no consumo de energético pelos mais novos, que consomem a bebida muitas vezes sem orientação.
"As bebidas energéticas, se consumidas em excesso ou junto com outras substâncias, podem causar sérios problemas de saúde (questões neurológicas, cardiológicas e psiquiátricas), principalmente nos corpos em formação", adverte.
O médico nutrólogo, Dr. Fernando Cerqueira, membro da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (SOBRAF), reforça a orientação da pediatra. "Os energéticos apresentam riscos potenciais à saúde devido aos estimulantes que contêm, e nunca devem ser consumidos por crianças ou adolescentes", declara.
Um estudo realizado pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, EUA, revelou que há diversos registros de crianças que sofreram infarto após consumirem energéticos. A pesquisa destaca que jovens com menos de 18 anos jamais devem consumir esse tipo de bebida.
Energético x Álcool
Patrícia revela que é muito comum adolescentes misturarem energéticos com bebidas alcoólicas, geralmente para dar mais sabor e garantir a animação. Contudo, ela explica que a combinação de cafeína ou guaraná com álcool aumenta as chances de intoxicação, principalmente nos mais jovens.
Ela explica ainda que a associação de cafeína e taurina estimula o sistema nervoso central, mascarando o efeito do álcool. "Esse uso combinado pode fazer com que a pessoa consuma uma quantidade ainda maior de álcool, podendo chegar a uma intoxicação e coma alcoólico", alerta.
Fernando cita uma pesquisa realizada pela Universidade Purdue em Indiana, também nos EUA, que mostra que o energético associado ao álcool pode ser tão prejudicial para a saúde quanto cocaína. Isso porque, de acordo com o médico, a bebida faz mal para o coração, provoca gastrite e danifica os dentes. Além disso, o energético também aumenta a frequência cardíaca e o estreitamento dos vasos sanguíneos, fazendo a pressão arterial decolar.
Consumo de energético cresce no Brasil
As bebidas energéticas estão se tornando cada vez mais populares entre os brasileiros, de acordo com o último levantamento divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR).
Os dados da ABIR, que analisam o período de 2010 a 2020, apontam que a produção de energéticos passou de aproximadamente 63 milhões de litros para 151 milhões. O consumo por pessoa mais do que dobrou: subiu de 300 ml ao ano por habitante para 700 ml.
O energético ganhou a admiração especialmente de pessoas que querem aumentar sua produtividade, assim como as que querem energia extra para os treinos ou para festejar. Há ainda quem consuma a bebida para se manter acordado por mais tempo, esquecendo que a privação do sono pode trazer malefícios, como destaca a pediatra.
"A longo prazo, ela pode alterar a memória, a atenção e o comportamento, e com o passar dos anos, aumentar os riscos cardiovasculares e também de obesidade", adverte a Dra. Patrícia.
Como ganhar energia naturalmente
A médica reforça que, para aguentar a rotina e se manter bem disposto, não é necessário usar nenhum tipo de substância energética, especialmente entre crianças e adolescentes. Se você busca o efeito do energético no seu dia a dia, a alimentação pode ser uma aliada. Alguns alimentos energéticos ajudam a ficar vigorado, garantindo disposição para as atividades da rotina.
O segredo é escolher alimentos que são fontes de vitaminas do complexo B, substâncias essenciais para o bom funcionamento do corpo. Confira:
1) VITAMINA B1 (TIAMINA): transforma a glicose em energia (adenosina trifosfato). Fontes: farelo de arroz, gérmen de trigo, pistache, semente de gergelim, aveia, avelã, amendoim, castanha do Brasil, milho cozido, lentilha, semente de girassol, grão-de-bico, arroz integral, espinafre, abacaxi, abacate, agrião, manga, abóbora, melancia, leite de vaca, matcha e açaí.
2) VITAMINA B2 (RIBOFLAVINA): é importante na conversão de glicose em energia e está envolvida no metabolismo de gorduras. Fontes: fígado, ovo de galinha, gérmen de trigo, cogumelo, espinafre, iogurte, agrião, batata doce, matcha e açaí.
3) VITAMINA B3 (NIACINA): está envolvida na produção de energia a partir de carboidratos. Fontes: fígado, amendoim, semente de girassol, gérmen de trigo, sardinha em óleo, semente de gergelim, bacalhau, batata doce, goiaba, pêssego, abóbora, atum fresco e matcha.
4) VITAMINA B5 (ÁCIDO PANTOTÊNICO): é um componente essencial da coenzima A, que ativa a via energética do grupamento acetil (derivado do metabolismo de carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos). Fontes: farelo de arroz, fígado, semente de girassol, gérmen de trigo, truta, amendoim, cogumelo, ovo de galinha, abacate, batata doce, salmão, ervilha fresca, lentilha, romã, brócolis, leite de vaca e abóbora.