O que a maior revisão de estudos sobre comidas ultraprocessadas revelou

Ultraprocessados, como cereais matinais e refrigerantes, foram associados a 32 efeitos prejudiciais à saúde.

15 mar 2024 - 07h37
(atualizado às 13h36)
Leite sendo derramado em pote com cereais coloridos
Leite sendo derramado em pote com cereais coloridos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os alimentos ultraprocessados, como cereais matinais e refrigerantes, foram associados a 32 efeitos prejudiciais à saúde, de acordo com a maior revisão de estudos sobre o tema realizada até o momento.

Globalmente, acredita-se que uma em cada cinco mortes se deve a uma má alimentação, e o papel dos alimentos ultraprocessados tem chamado bastante atenção em vários estudos nos últimos anos.

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O termo "alimentos ultraprocessados" começou a ser usado há apenas 15 anos para permitir que os pesquisadores investiguem o efeito do processamento de alimentos na saúde.

Esta nova revisão, chamada "guarda-chuva", analisou vários estudos recentes — que envolveram quase 10 milhões de pessoas —, reunindo grande parte dos dados disponíveis e fornecendo uma imagem geral de como os ultraprocessados afetam a nossa saúde.

Os resultados relacionam o consumo de grandes proporções de ultraprocessados na dieta com consequências negativas para a saúde e morte precoce devido a uma série de condições, incluindo doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e problemas de saúde mental.

As dietas que contêm altas proporções de ultraprocessados são, sem dúvida, prejudiciais à saúde, e o novo estudo respalda a relação deles com uma ampla variedade de doenças. Mas ainda há dúvidas sobre os mecanismos específicos pelos quais estes alimentos nos deixam doentes.

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Os pesquisadores propuseram vários mecanismos ao longo dos anos. Entre eles, o baixo valor nutricional, uma vez que alguns ultraprocessados podem ser ricos em gordura, açúcar e sal, pobres em fibras e deficientes em vitaminas, minerais e antioxidantes essenciais.

Outros mecanismos incluem a falta de estrutura e textura, o que acelera o consumo, aumenta os níveis de açúcar no sangue — e é menos eficaz na redução do apetite. Muita atenção também tem sido dada aos aditivos e outras substâncias químicas, sejam adicionados aos alimentos, ou como contaminantes das embalagens ou do ambiente.

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A qualidade das evidências varia

Um aspecto interessante desta revisão é o fato de que a força dos resultados varia entre os estudos — e algumas das correlações são fracas. Isso provavelmente se deve em parte à ampla variedade de alimentos contidos na categoria ultraprocessados.

Pela definição, são alimentos que podem conter aditivos e substâncias químicas — e são intensamente processados usando ingredientes refinados e reconstituídos, com os quais os consumidores podem não estar familiarizados.

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Isso abrange alimentos tão diversos quanto sorvete, salgadinhos, pão de forma integral, carnes processadas e margarinas com baixo teor de gordura. Esses alimentos tão diferentes, contendo ingredientes e valor nutricional bastante distintos, provavelmente vão ter efeitos bem diferentes na nossa saúde.

Este também é um alimento ultraprocessado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Outro fator importante para considerar é que estas pesquisas são grandes estudos a nível populacional, em que milhares de pessoas registram seu consumo alimentar habitual e sua situação de saúde. A análise leva em conta ("ajustes para") vários fatores, como idade, gênero e estilo de vida, que podem distorcer os dados.

No entanto, os resultados só podem mostrar uma relação entre consumo alimentar e saúde. Eles não fornecem evidências diretas dos mecanismos envolvidos. Precisamos urgentemente de novas pesquisas para compreender como e por que certos alimentos podem causar problemas de saúde.

Embora alguns estudos direcionados sejam possíveis, os efeitos a longo prazo sobre a saúde, por exemplo, do consumo de níveis elevados de aditivos podem ser difíceis e eticamente questionáveis.

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Mas existe uma oportunidade aqui para investigar estes efeitos mais detalhadamente utilizando dados existentes.

À medida que mais estudos são publicados, a quantidade de dados deve certamente nos permitir focar em diferentes formas de ultraprocessados para identificar os melhores e os piores.

Dada a enorme quantidade de dados na revisão guarda-chuva, seria interessante extrair alguns dados mais precisos para ajudar a identificar quais alimentos devemos evitar.

Hora de aprofundar

Existe uma enorme variedade de alimentos contidos na categoria ultraprocessados, com uma variedade igualmente diversificada de valores nutricionais.

O pão de forma integral é classificado como ultraprocessado, assim como o sorvete, o biscoito recheado e os salgadinhos. Por isso, é altamente provável que diferentes ultraprocessados tenham uma ampla variedade de efeitos na saúde.

Além disso, estudos em que seres humanos são alimentados com comidas ou ingredientes específicos de forma controlada, assim como análises estatísticas mais detalhadas de estudos existentes, devem nos ajudar a identificar que ultraprocessados evitar, quais são seguros e quais podem até ser benéficos, como parte de uma dieta saudável e equilibrada.

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Uma coisa é certa: estes estudos devem ajudar a basear orientações sobre como reduzir o consumo de ultraprocessados que são claramente prejudiciais à saúde.

Por outro lado, deveríamos também tentar identificar quais os aspectos destes alimentos que são mais perigosos, para que os fabricantes de alimentos possam eliminá-los das nossas dietas, como foi alcançado com ingredientes prejudiciais, como gorduras trans e alguns corantes artificiais.

Muita gente depende fortemente de alimentos comerciais e processados, e precisamos de garantir que, no futuro, estes alimentos sejam seguros e nutritivos, especialmente para os grupos mais pobres e vulneráveis.

* Pete Wilde é pesquisador de biociências no Instituto Quadram, do Reino Unido, que realiza pesquisas nas áreas de alimentação e saúde.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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