Você já parou para pensar que se as comidas saudáveis fossem “mais gostosas” talvez todo mundo fosse mais saudável? Mas e se eu disser que o problema não está na comida e sim em como nós entendemos ela e os prazeres que queremos proporcionar ao nosso corpo? Sim, os vilões não são as comidas e sim nosso entendimento delas.
A busca pelo prazer e sabor nas refeições é algo inerente ao ser humano, e muitas vezes encontramos esse prazer em comidas menos saudáveis. A nutricionista Ingrid Krichinak nos esclarece que a palatabilidade dos alimentos está relacionada às gorduras e açúcares presentes neles, tornando-os mais saborosos e, consequentemente, mais calóricos e menos saudáveis.
Hábitos que vem de família
Desde a infância, nossos hábitos alimentares e costumes familiares influenciam nossas preferências por sabores mais gordurosos e doces. Além disso, a correria do dia a dia e uma alimentação desorganizada podem levar a longos períodos sem comer, resultando em baixa energia no corpo. Nesses momentos, buscamos recompensa rápida e prazerosa, e é aí que recorremos a comidas hiper palatáveis, geralmente ricas em gorduras e açúcares, como bolachas, salgadinhos e outras comidas industrializadas.
As 3 fases do prazer que a comida proporciona
Essa busca por alimentos que nos proporcionem prazer imediato está ligada à maneira como nosso cérebro funciona. De acordo com a neurociência, ao longo do dia um adulto toma em média 35 mil pequenas decisões e tendemos a optar pelo caminho mais fácil, buscando recompensas instantâneas. Com o estresse e a influência constante das redes sociais, nosso senso de prazer e recompensa pode ficar desequilibrado, favorecendo escolhas alimentares menos saudáveis.
Quando comemos algo delicioso, liberamos o neurotransmissor dopamina, responsável pelas sensações de prazer e recompensa. Essa liberação ocorre em três fases: primeiro, só de pensar no alimento, já liberamos dopamina (esse processo é chamado de "liking"); em seguida, a sensação de prazer nos motiva a buscar a recompensa de comer algo gostoso ("wanting"); por fim, nosso cérebro registra a experiência positiva, condicionando nosso corpo a repetir esse comportamento ("learning").
Mas como resolver esse dilema entre prazer imediato e uma alimentação mais saudável?
Ingrid sugere a adaptação gradual do paladar, reduzindo o consumo de açúcar, sal e gordura. Construir novos hábitos é fundamental, mas pode ser desafiador nos primeiros dias, quando nosso equilíbrio de dopamina e prazer ainda está se ajustando. No entanto, com o tempo, é possível sentir mais prazer ao comer saladas, legumes e refeições saudáveis.
Outra estratégia é modular o ambiente alimentar, como ter refeições saudáveis prontas em casa, diminuindo o esforço da tomada de decisão na hora das refeições. Assim, é possível tornar a alimentação saudável mais prazerosa e atrativa.
“Organizar minha alimentação da semana também é prazeroso, no final isso também vai te dar prazer, mas no momento da refeição talvez não seja tão bom quanto comer uma batata frita e um hambúrguer”, explica a nutricionista.
Portanto, entender os mecanismos por trás da preferência por comidas menos saudáveis nos permite tomar decisões conscientes e buscar um equilíbrio entre prazer imediato e a satisfação a longo prazo que uma alimentação saudável pode proporcionar. É possível transformar o paladar, desenvolver hábitos alimentares mais saudáveis e desfrutar do prazer genuíno em uma alimentação equilibrada.