Entre as muitas características do queijo camembert, considerado primo do tipo brie, está a casca de mofo branco que envolve seu interior macio e cremoso. A variação é fruto do avanço dos estudos na área da microbiologia, e por isso o mofo não se encontra na natureza, apenas nos produtos lácteos.
Em outras palavras, o queijo camembert é fruto exclusivo da domesticação humana, e veio como uma solução para garantir a estabilidade não só da cor, mas da qualidade dos queijos produzidos na região de Brie, no Norte da França, no século XIX. Hoje, todos os camembert fabricados utilizam a mesma linha clonal.
Mas, embora seja um alimento resultado de manipulação, é possível que o tipo caia em extinção. De acordo com a pesquisadora francesa do CNRS, Jeanne Ropars, a cepa que desenvolve o mofo está se degenerando, correndo o risco de deixar de existir totalmente no futuro.
Ela, que estuda a história evolutiva do alimento, justifica seu fim iminente pelo mesmo fator que permitiu sua criação, o isolamento. "[O] Camemberti agora está completamente degenerado. Ele perdeu funções, como a capacidade de crescer em condições adversas", diz.
"Normalmente, quando temos uma diversidade de cepas na natureza, elas vão, graças à reprodução sexuada, se misturar, misturar seu material genético e vamos manter uma certa diversidade. Se você esgotar essa diversidade, se você selecionar apenas um único mutante, deixá-lo sozinho, sem nenhuma outra cepa para se misturar, ele irá evoluir, fazer mutações. Sem a reprodução sexuada, surgem mutações deletérias, que inexoravelmente se acumulam, sem poderem ser reparadas ou substituídas. A espécie não conseguirá sobreviver. Este é o cenário provável com as duas variedades clonais de Camemberti. Se as mutações deletérias se acumularem, elas irão degenerar até que a cepa se torne inutilizável", explica.
Entenda mais através da matéria 'Penicillium camemberti: crônica de uma morte anunciada', por Débora Pereira, disponível na íntegra aqui.