O secretário de Agricultura de São Paulo Guilherme Piai passou dois dias intensos em Paris para conhecer como funcionam as políticas públicas para o queijo francês e se inspirar para melhorar o setor paulista do queijo artesanal. Tive o prazer de ser tradutora das reuniões para ele e seus assessores Alberto Amorim e Ricardo Rosário.
"Foi fantástico, trocamos muitas experiências com vários setores," disse Guilherme. "Achei bem interessante que todas as escolas agrícolas francesas, incluindo as unidades Enil (Escola Nacional da Indústria Láctica), dependem do Ministério da Agricultura e Soberania Alimentar. Todas as pesquisas realizadas pelo Inrae (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica e Ambiental) também têm como finalidade ajudar os produtores a resolverem seus problemas. A cadeia do queijo agrega muito valor e temos que incentivar práticas como essa" disse ele.
Os recursos destinados ao ensino e à pesquisa na França, excluindo custos com pessoal, em 2022 chegou a 675 milhões de euros em autorizações de engajamento e 671 milhões de euros em créditos de pagamento, um aumento de quase 5% em relação a 2021. Esse montante representa um terço do orçamento do Ministério da Agricultura, ou seja, 34% é reservado a manter cerca de 300 escolas rurais que formam 200 mil pessoas por ano. "Assuntos como transmissão das fazendas, manutenção dos agricultores no campo, seguro contra calamidades, tudo isso foi assunto das pautas."
A "humanização dos fiscais", demanda antiga dos produtores, foi tema das discussões. "Queremos andar ao lado dos produtores, orientar, capacitar e não punir. Simplificamos a certificação de produtos de origem animal e agora faremos o mesmo com os produtos de origem vegetal," disse Guilherme.
Na simplificação feita pelo SISP para a certificação dos produtores, uma das mudanças que mais beneficiar a economia queijeira é a flexibilização do fluxo: produtores que fazem vários queijos e outros produtos podem fazer tudo na mesma sala de fabricação, afinal a filosofia de uma agricultura familiar é mais multi produtos que mono.
A comitiva brasileira também visitou a Maison du Lait, federação da cadeia do leite e queijo que trabalha pelo desenvolvimento e economia leiteira. Em seguida, visitou a escola Cifca, onde sou professora, que forma comerciantes de queijos (queijistas), de vinhos (cavistas) e de frutas e legumes.
O percurso terminou na Lateirie de la Chapelle, uma loja de queijos e leiteria urbana que tranforma leite cru dentro de Paris, em toda uma gama de queijos curados de diferentes famílias. "A nova lei do queijo artesanal paulista prevê que laticínios podem se instalar nas cidades, é uma inovação, esperamos em breve ver essa realidade em São Paulo," disse Guilherme.