O chá das cinco é quase uma instituição entre os ingleses. Seja na esfera da realeza, seja à mesa de gente como a gente, o hábito de tomar o chá preto, geralmente misturado ao leite, é uma das tradições gastronômicas mais marcantes por lá.
Em seu livro História, Lendas e Curiosidades da gastronomia, Roberta Malta Saldanha detalha aspectos pitorescos da história.
"Ao chegar à corte, Dona Catarina entregou um pacotinho que trouxera consigo e pediu que preparassem um chá. Perguntaram como se fazia aquilo. "Ferve-se água e deita-se água a ferver em cima das folhas", teria dito. Passado algum tempo, trouxeram-lhe um prato com as folhas molhadas e quentes. A água? Tinha sido jogada fora", conta a autora.
Roberta acrescenta que apesar de Catarina ter popularizado a bebida em terras inglesas, foi Anna (1783-1857), sétima duquesa de Bedford, que introduziu o hábito de beber o chá por volta das cinco da tarde, acompanhado de comidinhas leves (com o tempo, os pãezinhos rápidos chamados scones foram introduzidos). Tudo porque, diziam à boca pequena, que Anna tinha um grande apetite e queria apaziguar a fome entre as refeições.
Já o hábito de acrescentar leite frio ao chá, segundo a autora, tem a ver com o tipo de louça usada para servir a bebida. Ao tentar reproduzir as pequenas xícaras chinesas usadas para consumir o chá, o material não tinha tanta resistência ao calor e se rompiam. Colocar o leite, à época, teria sido a solução que fez surgir o costume, carregado pelos ingleses até hoje.
Outra curiosidade: um dos chãs mais populares na Inglaterra é o Earl grey tea, que mescla o chás pretos do Ceilão e da Índia, cujo nome homenageia o conde Charles Grey. Ele teria recebido de presente tal mistura depois de salvar o filho de um mandarim. O resto, é história - com um pouco de lenda, é verdade!
Doce lembrança
A referência a Portugal quando o assunto é chá me trouxe lembranças da incrível experiência que tive no ano passado, no Palácio Seteais, em Sintra, onde, à altura, a rede Tivoli mantinha um hotel com aquele clima de realeza. Uma das opções gastronômicas por lá era o Chá das Rainhas, é claro, regada a muito chá e tradição. Infelizmente, já não é mais possível curtir tal momento!
As rainhas, em questão, são a já citada Catarina de Bragança e e a geniosas Carlota Joaquina de Bourbon, que desembarcou no Brasil com Dom João VI em 1808 e é homenageada no arco da entrada do Palácio Seteais. O ponto, aliás, virou atração turísticas e dá acesso a uma das vistas mais bonitas de Sintra.
Mas, voltemos ao menu que era deliciosamente servido diariamente às 17h, como manda a regra. No início do outono, quando participei da experiência, a refeição completa foi servida no terraço, com vista para a piscina e ao imenso jardim, marcado pela profusão de árvores da região.
A primeira opção - Catarina de Bragança - incluia doze opções de chá, uma seleção de três peças de confeitaria (pastelaria, para os portugueses), pequenos sanduíches, seleção de geleias e manteiga e os tradicionais scones, pãezinhos rápidos super populares no Reino Unido. A outra opção, Carlota Joaquina, incluia uma taçca de champagne, com atenção especial aos doces mais tradicionais de Sintra, como os Travessseiros e as Queijadas.
Durante os dias mais quentes do ano, o chá era degustado na área externa (ou, esplanada, como dizem os portugueses), com vista para a piscina. Quando as temperaturas caiam, a experiência ocorria no restaurante do Tivoli Palácio Seteais, que nos faz voltar ao tempo da realeza, dada a decoração esmerada.
Comecei o ano com a confirmação da notícia de que a rede Tivoli deixa de atuar no Palácio Seteais. Ficam, porém, as boas lembranças, em especial desse momento cheio de tradição do Chá das Rainhas.
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