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Dia dos Pais: futuro 'pai solo' escreve livro contando jornada

Técnicas de reprodução assistida ampliaram o conceito de família e paternidade, com produção independente masculina

8 ago 2023 - 06h10
Bruno Teixeira, que segue sonho de ter a filha como "pai solo"
Bruno Teixeira, que segue sonho de ter a filha como "pai solo"
Foto: Arquivo Pessoal

Na contramão de uma triste realidade brasileira – em que ainda é comum o abandono parental – existem homens que sonharam a vida toda com a paternidade e lutam incansavelmente para serem pais. Um número pequeno, mas que vem crescendo, também está disposto a seguir com a paternidade solo ou produção independente masculina – possível por meio de técnicas de reprodução assistida. 

É o caso do produtor de eventos e servidor público Bruno Teixeira, de 39 anos, que está muito próximo de realizar seu sonho. Em outubro, ele será pai solo de Ava Thereza – nome que pensou em homenagem a sua avó. 

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“Sempre considerei a paternidade como meu projeto de vida”, diz Bruno. 

“Os tratamentos de reprodução assistida são um raio de esperança para pessoas solteiras que ainda não têm parceiro e querem realizar o sonho pela produção independente. As técnicas de reprodução que contribuem para essa nova configuração familiar ajudam a mudar a forma como a sociedade encara a paternidade”, diz Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. “É necessário acolher e ter empatia a esses pacientes que, na verdade, só estão buscando a realização de um sonho.”

A hora de optar pela produção independente

Em 2022, Bruno sentiu que a produção independente era o caminho a ser seguido. “Eu pesquisei sobre adoção, mas optei por utilizar técnicas de reprodução assistida com um útero cedente”, explica ele. 

Para se tornarem pais com ajuda da reprodução assistida, os homens solteiros precisam, além da doação do óvulo, que é intermediada por meio de bancos do material que garantem o anonimato dos receptores e doadores, de uma barriga solidária, ou seja, uma mulher que esteja disposta a gestar o bebê. 

“Existem regras rígidas no que diz respeito à barriga solidária, sendo que a mulher disposta a ceder o útero para o procedimento deve ter mais de 18 anos e ser parente sanguínea de até quarto grau de um dos parceiros. Outros casos precisam receber autorização do Conselho Federal de Medicina e, caso não haja candidatas para ceder o útero, não é possível realizar o procedimento”, afirma o médico Fernando.

Na primeira clínica que conheceu, Bruno conta que enfrentou questionamentos, por se tratar de um homem e solteiro. Mesmo explicando a situação, não conseguiu evitar o constrangimento e sentiu que ali não era o seu lugar. 

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“A segunda clínica informou que não poderia dar andamento ao tratamento, pois minha irmã, que concordou em ceder o útero, ainda não tinha filhos. E o Conselho Federal de Medicina recomenda que a cedente temporária de útero tenha ao menos um filho”, diz Bruno. 

Um café com a barriga solidária

Alguns meses se passaram e em maio de 2022, após um café com uma amiga, que sabendo do seu sonho, se disponibilizou a ser sua barriga solidária, Bruno decidiu tentar. 

“Marquei uma consulta com o dr. Fernando Prado e me surpreendi com a clínica e profissionais. Ambiente agradável, com quadros de famílias de diferentes configurações, atendimento humanizado desde a recepção. Eu me senti acolhido e na consulta inicial já fui parabenizado pelo desejo de construir uma família”, lembra Bruno.

De acordo com o médico, esse é um tratamento bastante particular, em que muitas questões éticas, legais e psicológicas estão envolvidas. Portanto, tem uma especificidade que deve ser acompanhada com todo cuidado e atenção pela clínica responsável pelo tratamento. 

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“O médico assistente deve estar treinado e habituado a lidar com esse cenário e dessa forma permitir que novas famílias possam ser construídas, com todo afeto e amor que se espera desse laço tão importante”, diz Fernando Prado.

O início do processo

Após avaliações psicológicas de Bruno e da barriga solidária, foi solicitada autorização para realização do processo, através da Clínica, junto ao CRM. “Todos esses trâmites são necessários para que o processo flua de forma natural”, destaca Fernando Prado. 

Foram quatro meses de espera para que Bruno garantisse três direitos: 

  • • Iniciar a fertilização in vitro; 
  • • Garantir que o bebê seja registrado somente em seu nome
  • • Entrar com o pedido de licença maternidade por equiparação de 180 dias, semelhante às mulheres.

Embora na teoria pareça algo simples, a prática da fertilização in vitro é extremamente complexa. Quando óvulos são fertilizados em laboratório e posteriormente transferidos para o útero da mãe ou de uma mulher receptora, isso nem sempre é garantia de sucesso. 

“A Fertilização in Vitro, apesar de possuir altas taxas de sucesso, não é infalível e pode não resultar em gravidez, o que pode ser realmente decepcionante para o pai por produção independente. Porém, falhas na FIV não querem dizer que o procedimento não pode ser realizado novamente”, diz Fernando.

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Com Bruno, na segunda tentativa por fertilização in vitro, veio o resultado: positivo. 

“Acompanhar a incrível mãe que ela é para os filhos dela, ao tratamento inicial, consultas com a nutricionista, ultrassom e todos os exames, tem sido uma caminhada de muita alegria. Sou eternamente grato, pois ela realizou o maior sonho da minha vida. Apesar de morarmos em cidades diferentes, nos vemos a cada 15 dias, participo de todas as consultas, além das chamadas de vídeo que fazemos, para acompanhar a evolução da gestação. Lembrando que antes e durante o processo, foi fundamental terapia, rede de apoio e saber trabalhar as expectativas, para ambos", argumenta Bruno.

Pai solo promete educação "livre"

O servidor público já tem ideia de como será a paternidade. “Sendo pai solo, todas as decisões referentes à criação e aos valores serão minhas. Vou me esforçar para ser o melhor pai que eu puder e conto com uma rede de apoio maravilhosa. Eu pretendo educar a Ava para que seja livre, independente, forte, justa e humana”, diz ele. 

“Eu pensava em deixar essa história somente para Ava e minha família, mas essa história não é só minha, é de muitos que chegaram, antes de mim e mostraram que é possível ter uma família. Estou escrevendo um livro, para inspirar outros e mostrar que apesar de todas as dificuldades e batalhas, o amor venceu. Quero curtir cada minuto ao lado dela, mas quem sabe no futuro, um irmãozinho venha”, finaliza Bruno.

(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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