Ricardo Pereira, de 40 anos, prefere não impor rótulos na educação dos três filhos: Vicente, de (8), Francisca (6) e Julieta (3). Segundo o ator, ele e a esposa Francisca Pinto não diferenciam a criação do trio por causa do gênero, com coisas tidas como “de menino” e “de menina”, como as cores azul e rosa.
“Nesse quesito, a gente tenta passar uma educação totalmente de respeito pelo próximo, de que cada um tem o direito de fazer a sua escolha, de que cada um tem o direito de viver a vida que escolheu. Acho que daí vai a nossa educação e os princípios para tudo o que vem depois. Essa é a educação que a gente quer transmitir para os nossos filhos: de respeito ao próximo, de respeito pela escolha do próximo, e isso segue para todas as outras questões que daí advém”, explica o ator, que está no ar na reprise de Novo Mundo, em entrevista ao Terra.
Pelo WhatsApp, o artista respondeu a uma série de questões relacionadas à educação das crianças, em especial, à quarentena intensa junto ao mini trio de cariocas e dividida entre Brasil e Portugal – mas sempre em casa.
Terra: Como tem sido o isolamento social dedicado aos três filhos e à esposa?
Ricardo Pereira: Esse período total da quarentena, que acabei passando com a criançada, foi muito intenso. Acho que para qualquer família, não é? Ter a família em casa, todo mundo junto, com tantos dias no mesmo lugar, e com filhos de idades diferentes, é um aprendizado para todo mundo. Mas acho que quando você explica para as crianças o que é que está acontecendo, obviamente que do jeito que deve ser explicado, eles entendem e acabam também se tornando muito camaradas. Ficam muito amigos uns dos outros e parceiros até da gente.
Como vocês se organizaram para dar conta das demandas?
É fundamental criar rotinas em casa, não só entretenimento para a família, para passar melhor o tempo. Assim, eles entendem os dias deles de escola e funções que eles têm que fazer. Eu e a minha mulher podemos falar que foi um momento muito exigente, mas superado com muito afeto e muito amor.
De que maneira você e a Francisca dividem as tarefas de casa e dão conta do trio de crianças?
A gente sempre se dividiu muito bem nessas tarefas. A gente gosta de meter a mão, de estar muito em cima dos nossos filhos, dando muito carinho, acompanhando todas as atividades e todas as brincadeiras deles quando a gente não está trabalhando. Quando a gente está em casa, como é agora, sem dúvida o foco são eles. Somos pais ‘presentaços’. Mas nos dividimos bem. Eu dou banho nos três, a Chica já tira, seca, passa o creme. A gente sempre foi muito prático, do tipo que coloca mochila nas costas e anda com eles para todo lado. Por isso, a gente é safo nessas tarefas. Mas tivemos a dificuldade de, além de pais, se virar como professores. São aprendizados, são coisas que você encara e vai com tudo. Acho que a base da nossa relação como pais e também como marido e mulher tem sido muito na ajuda, na compreensão e de ensinar que eles ajudem uns aos outros.
Para ensinar às crianças, passou alguma dificuldade ou viveu alguma situação engraçada?
São muitas situações inusitadas. A gente não é professor, a gente teve que entrar na diária deles de escola, ensinar, aprender as matérias. Por vezes eu e a Francisca tivemos que estudar, ver vários vídeos, procurar alguma informação que a gente não sabia. Tivemos momentos hilários e momento de pedir para eles nos ajudarem. Foi uma missão, de união familiar e que foi super importante para a nossa relação.
Como ensinam a cultura brasileira sem deixar que a identidade lusitana se perca?
Pelo fato de a gente morar no Brasil, a cultura brasileira está muito presente neles. Os três são brasileiros, cariocas. Eles têm a cultura presente na escola, nas relações humanas e de amizades. Obviamente que eles têm e conhecem a cultura de Portugal já que passam férias e um tempo com os avós, além de que eu e a minha mulher somos portugueses. A gente passa muito para eles. O bacana é que eles estão se tornando do mundo. Eles são brasileiros que vivem no Brasil, que têm uma noção da cultura portuguesa também e acabam tendo essas referências dos dois países. Acho que no futuro isso vai torná-los pessoas mais abertas ao conhecimento, com mais noção de que o mundo é um lugar bem grande, com culturas, lugares e pessoas diferentes. É uma família mista e isso é muito importante para o mundo de hoje, você ser um cidadão do mundo.
Qual o maior desafio do isolamento?
Tem a ver com o contato social que você acaba não tendo. Isso é algo fundamental não só para os adultos como para as crianças. Sentimos falta do contato com amigos, com a família, a possibilidade de você circular, sair de casa. O ser humano, sem dúvida, necessita disso.
O que vocês têm consumido de arte em família?
Nós assistimos muitos filmes, seriados, documentários. Tem muitos espetáculos online também e visitamos museus. Fizemos uma programação mais infantil e tanto eu quanto a minha mulher resgatamos filmes que tínhamos visto em nossas infâncias e adolescências. Isso foi fundamental para ocupar o tempo. A gente leu muito também. Isso ajudou a manter a cabeça sã.
Sua percepção sobre a paternidade mudou por agora passar mais tempo com as crianças?
Acho que sim. A gente descobriu e redescobriu muita coisa. Quero encarar esse momento como evolutivo, de aprendizado, um momento de entendimento, de muita descoberta. Foi um momento diferente e nos serviu para conhecer mais da vida deles enquanto estudantes e enquanto irmãos. A Julieta, a mais novinha, quase que deixou de dormir a siesta [dormida depois do almoço], por ter os irmãos em casa sempre. Foi muito intenso, mas também foi muito bom porque ela se aproximou e eles brincaram muito uns com os outros, conheceram coisas novas uns dos outros.
Você já admitiu que deseja aumentar a família e ter quatro filhos. O sonho ainda está de pé? Há alguma previsão da chegada de mais uma criança em casa?
O sonho está sempre de pé. A gente sempre falou que gostaria de ter quatro filhos, de aumentar a família. Mas vamos ver com toda a prudência, com todo cuidado, até porque a gente gosta de estar muito próximo, acompanhar todo o crescimento deles e são três crianças em momentos diferentes. Mas o sonho está lá. Vamos ver o que reserva o futuro.