São tempos difíceis para as mulheres, sobretudo as brasileiras. Em menos de dez dias, dois casos de violência sexual despontaram na mídia. De um lado, uma menina de 11 anos — que engravidou aos dez — e teve o aborto negado, ainda que previsto em lei. E do outro, a atriz Klara Castanho, que postou uma carta aberta em seu Instagram contando que o estupro sofrido resultou em uma gravidez indesejada e o bebê foi colocado para a adoção em meios legais.
"Dentro do pacote de violências contidas neste caso doloroso, podemos citar: a física caracterizada pelo estupro, a moral, a da exposição e violação da intimidade; a dos julgamentos nas redes sociais, a psicológica, principalmente por não ter condições emocionais de exercer a maternidade, a da intolerância e a violência da falta de empatia e acolhimento, que colocam a vítima no papel de culpada", destaca a psicanalista Andréa Ladislau.
Além delas, existem muitas outras mulheres passando pelo mesmo. Afinal, conforme dados divulgados pelo Fórum Nacional de Segurança Pública no ano passado, no país, um estupro aconteceu a cada dez minutos. E quantos deles será que resultam em uma gestação fruto da violência? Quantas dessas mulheres conseguem, de fato, exercer seu direito de abortamento ou adoção legais?
"A grande verdade é que as vítimas de abusos físicos, morais ou psicológicos precisam e devem receber acolhimento empático, sem julgamentos. Além disso, o acompanhamento psicoterápico também é de suma importância para reconstruir e ressignificar abismos provocados pela insegurança e pelo medo", ressalta Andréa.
Da violência sexual aos seus desdobramentos, todas as vítimas precisam de tratamento psicológico. "Apoio emocional é fundamental para lidar com as questões que surgirão, com a culpa, o medo e a mudança de vida que pode ter em função disso", argumenta a psicóloga e psicodramatista Marina Vasconcellos.
A terapia indicada em caso de estupro
Não apenas em casos de gravidez, a terapia é recomendada e necessária para qualquer vítima de estupro. Segundo a especialista, esse acompanhamento psicológico e emocional é fundamental independentemente se a violência resultou em um processo maior ou não.
Marina explica que é preciso agir rápido, ou seja, terapias longas e psicanálise não são as mais indicadas no momento. "São recomendados tratamentos mais focados e direcionados ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) para não criar uma consequência tão danosa à mulher. Ela precisa conseguir falar sobre isso antes que vire um trauma", pontua.
Outras possíveis abordagens sugeridas pela psicóloga são a terapia comportamental, a ligada ao corpo, como a Experiência Somática, ou o psicodrama para lidar com o sofrimento também do corpo nesses traumas e estresses sofridos. "Terapias focadas em resultados rápidos para falar e elaborar esse evento para não se tornar o trauma é o mais indicado", garante a psicóloga.
Fonte: Marina Vasconcellos, psicóloga, psicodramatista e terapeuta familiar; e Andréa Ladislau, psicanalista.