A diferença entre flerte e assédio sexual

Assédio é algo indesejado e persistente - e essa diferença pode ser ensinada até para crianças pequenas

21 out 2017 - 08h25
(atualizado às 12h37)

Uma manifestação incontestável da atração sexual. A mão que repousa sobre o joelho. Uma mensagem de texto cheia de insinuações.

Casal em festa
Casal em festa
Foto: BBC News Brasil

Em que momento um flerte se torna um caso de assédio?

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À medida que o número denúncias de assédio contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein aumenta, mulheres de todo o mundo têm se manifestado nas redes sociais para compartilhar suas experiências com a hashtag #MeToo.

Weinstein desfrutava de grande poder, capaz de moldar ou destruir a carreira de muitas vítimas. Longe do trabalho, porém, o assédio também pode ser extremamente prejudicial.

No debate global, a questão sobre como se define o assédio sexual não está totalmente esclarecida.

Como ter certeza de que não se está agindo de forma errada?

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Se você quer conhecer um pretendente, você precisa flertar - mas a questão é fazer isso no ambiente certo, e não quando as pessoas não estão esperando, diz o especialista em relacionamentos James Preece.

Aos clientes, homens e mulheres com idades entre 23 e 72 anos, ele recomenda que se aventurem de forma segura, usando humor - e não sexo - para paquerar.

"Seja amistoso, crie uma conexão, estabeleça confiança", ele afirma. No fim do primeiro encontro, por exemplo, ele sugere um abraço amigável ou um beijo na bochecha.

Quando o flerte se torna assédio sexual?

Quando é indesejado e persistente, destaca Sarah King, do escritório de advocacia britânico Stuart Miller.

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Para Preece, isso ocorre quando um dos lados vai longe demais - seja com palavras ou com ações - e quando a outra pessoa claramente não quer.

A especialista Sea Ming Pak, que percorre escolas em Londres para ensinar jovens sobre sexo e relacionamentos, tem uma longa lista daquilo que acredita que possa ser considerado assédio sexual: toque não consensual, situações em que o homem sente que tem direito sobre alguém, seguir uma garota na rua e tentar puxar conversa quando ela claramente não deseja e tenta seguir em frente, assobiar ou usar a posição de poder para falar com alguém de forma que a deixe desconfortável.

Na lei britânica, o Equality Act 2010 define como "uma conduta indesejada de natureza sexual" que viola a dignidade do indivíduo ou cria "um ambiente hostil, degradante e ofensivo".

No Brasil, o artigo 216-A do Código Penal denomina assédio sexual no ambiente de trabalho como o ato de "constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função".

Por que o assédio acontece?

Ming Pak, que trabalha para a organização dedicada à saúde sexual de jovens Brook, culpa a cultura do "sexo vende", que se espalhou pelo Ocidente e que, diz ela, gera nos homens um sentimento de posse e, nas mulheres, uma cultura de culpa.

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Os jovens são condicionados por meio de filmes, clipes de música, programas de TV, do acesso fácil a pornografia e da banalização da prática de compartilhar imagens sexuais pelo celular, ela afirma.

Nas salas de aula, ela diz aos alunos que, quando se fala de sexo, é preciso que haja liberdade e capacidade para tomar decisões.

Ming Pak considera preocupante, entretanto, a desinformação entre os jovens - visível em situações em que muitos deles culpam as vítimas de casos de estupro.

Em alguns casos, é um comportamento adquirido, reflexo daqueles que estão ao seu redor.

Em uma das situações que lhe chamou atenção, ela viu uma garota em um ponto de ônibus sendo abraçada por um rapaz que parecia bastante "pegajoso".

"Ela não parecia muito confortável, então na semana seguinte eu lhe disse: 'Você tem direito de dizer 'não', não está certo ele tocar em você sem que você queira'".

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"Eu expliquei o que era consentimento e ela respondeu: 'Mas eles sempre me agarram'".

Garota no ponto de ônibus
Foto: BBC News Brasil

A especialista, que normalmente trabalha com meninos e meninas entre 14 e 17 anos, acredita que o problema não vai desaparecer até que se diga às crianças desde muito cedo que elas podem dizer "não".

Nós deveríamos conversar com eles desde a educação infantil e fundamental, ela ressalta.

É nessa época que tudo começa, acrescenta, lembrando de seus próprios dias na escola, quando os garotos achavam engraçado levantar a saia das meninas ou tentar abrir seus sutiãs. "Tratava-se de vergonha e humilhação".

Nessa idade, você pode falar sobre limites. No colegial, eles precisam aprender sobre consentimento, sobre como entender linguagem corporal, a lidar com as situações e a refletir antes de mandar "nudes".

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