Todas as religiões e caminhos espirituais que conhecemos falam em perdão. Mas será que sabemos, de fato, perdoar?
Perdoar requer atitude de sobriedade e aceitação; o perdão deve brotar da consciência de si e dos limites de cada um. O exercício do perdão deve ser, primeiramente, praticado através do auto perdão, que muitas vezes é o mais difícil.
Perdoar nossos erros do passado, nossas falhas e faltas, aceitar nossos limites, nossa ignorância, nossa condição de aprendizes, é fundamental para encontrarmos um pouco de paz interior.
O orgulho e a arrogância devem ser deixados de lado e nosso coração e consciência devem se abrir ao auto perdão. A culpa é um sentimento que devemos reavaliar; que tal trocarmos a palavra culpa pela palavra responsabilidade? Não somos culpados enquanto inconscientes, mas responsáveis por cada atitude, cada palavra, cada comportamento. Assumindo a responsabilidade por cada movimento que fazemos, assumimos a consequência de todo ato praticado por nós. Assumindo a responsabilidade e a consequência, amadurecemos como seres humanos que somos e continuamos a percorrer o caminho do crescimento e evolução. Dessa forma, os erros são compreendidos e o perdão acontece naturalmente. Assumir responsabilidades por nós e nossas vidas, redimensionar nossos erros e faltas, procurar corrigi-los e, fundamentalmente, descer da cruz que nos foi imposta, é fundamental para nosso crescimento.
É natural, dentro das leis deste planeta, que passemos por graves problemas, perdemos o chão firme que sempre caminhamos com segurança, a razão, a consciência e nos vemos repetindo padrões antigos.
É preciso aprender a perdoar a nós mesmos, à nossa ancestralidade, nossa origem, nossos limites e quando fazemos isso, passamos a nos aceitar mais plenamente, aceitar nossa ancestralidade e origem, além dos nossos limites humanos.
Precisamos deixar de lado os conceitos, os rituais e toda manifestação externa da prática do perdão. Como disse, perdoar deve ser um ato de consciência e por isso deve brotar da experiência interna, de um processo de interiorização. Deve-se deixar de lado as raivas, a revolta e abraçar a entrega e a aceitação.
Quando conseguimos alcançar esse lugar em nós, experimentamos a expansão, sentimos nossos corações se aquecerem e a sensação é de libertação. Há, certamente, uma tendência a repetirmos padrões que estão muito cristalizados pelo tempo e pela repetição, portanto, deve-se manter a consciência alerta e nunca desistir. É como um duro nó que precisa ser desatado, com amor e paciência.
Perdoar é um exercício de humildade, é preciso acreditar que existe algo maior e mais poderoso do que nós. Acessamos nosso lado destrutivo transformador unido ao lado destrutivo transformador do Universo - que é Kali na filosofia indiana.
Antes de exercermos o perdão, passamos pelo processo de dor intensa, somos arremessados a momentos de desespero e desesperança. Depois, experimentamos o ressentimento, para que, em um último estágio, as boas águas do esquecimento limpe toda angústia, ódio e ausência de alegrias que vivemos enquanto estivemos imersos em nossas faltas e dores.
Somos arremessados a um estado de bênção divina que nos permite continuar nossa jornada na direção de uma nova vida. Mas só conseguimos nos banhar nessas águas, quando aprendemos, a partir da consciência de nossos limites e faltas a praticar a lei do perdão.
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