Dia desses ouvi, embevecida, a força de Maria Bethânia, sempre magistral, cantando Quem me leva os meus fantasmas?, música de um jovem compositor português, Pedro Abrunhosa. Tudo ali é pura beleza. Reafirma: "o que permanece é fundado pelos poetas".
A letra toda da canção soou-me marcante, interessante, viva e desafiadora. Mas, entre os versos, um ganhou morada no meu coração e alma: “de costas voltadas não se vê o futuro”. Isso!
Da minha maneira, colhendo aqui e ali as experiências fortes que meus mentores permitem, entendo a afirmação e concordo com a ideia. Encontrei muitas vezes a mesma situação.
Sem conseguir olhar adiante, virar o rosto para a vida e enfrentar a realidade, a pessoa marca o passo como quem não tem nenhum futuro, nenhum amanhã ou nenhuma possibilidade.
É caso comum para quem trabalha nas sendas de mistério esotérico. A vida estanca, como se o freio de estacionamento fosse puxado. Nada se move, total calmaria, ausência completa da mais tênue brisa. Os músculos trabalham, mas nenhum movimento é obtido.
São temporadas de soma zero, estações mais ou menos longas, momentos vazios na peregrinação de todos nós. Áreas inteiras da vida não dão qualquer sinal de dinamização. O problema não se resolve, o amor não aparece, o dinheiro não vem, o negócio não fecha, a doença não desaparece e assim por diante.
Nessas circunstâncias, a ajuda espiritual costuma ser certeira. Ela representa aquele empurrãozinho que faltava, mesmo mínimo, para desengripar. É a simples peninha, leve, que modifica o arranjo da balança e permite que grandes parcelas de energia, anteriormente investidas, encontrem vazão e se descarreguem.
O gesto esotérico nessas situações jamais é a patada de urso, hábil ataque felino ou bote inesperado de serpente. Sutil como os pássaros bem pequenos – pardal, tico-tico –, transporta no bico uma única gota, justo aquela que, mesmo leve, altera a composição de forças, tomba o recipiente, inunda de vida tudo que precisava dessa água fresca para renascer.
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