Atotô! Silêncio! O Senhor da Terra está entre nós! - é o que dizem os itans (lendas e contos africanos). Após adquirir todo o conhecimento sobre a vida, Oxalá enviou Omolu ao reino dos mortos e ele retornou de lá dominando todos os aspectos deste reino, desvendando, assim, os mistérios da vida e da morte. Considerados uns dos orixás mais temidos do panteão africano, Obaluaiê e Omolu estão associados aos orixás das doenças, da varíola, da cura e também da morte.
Obaluaiê e Omolu: os orixás mais "temidos"
É importante ressaltar que as religiões afro-brasileiras apresentam grande diversidade, com várias vertentes. Portanto, há culturas distintas que podem variar de acordo com a tradição e influência cultural. Em algumas, Omolu e Obaluaiê são considerados a mesma divindade, enquanto em outras são vistos como jovem e ancião - Obaluaiê o jovem sincretizado a São Roque e Omolu, o ancião, a São Lázaro.
Em outras culturas, ainda, são encarados como distintos. Enquanto Obaluaiê é regente do campo da evolução e transmutação, Omolu é o senhor da morte e do fim, seja ela do corpo físico ou da finalização dos ciclos.
Regentes da linha dos Pretos Velhos
Omolu e Obaluaiê são os regentes das almas e dos Pretos Velhos. Seu campo de força e local de oferendas se encontram na Calunga Pequena (cemitérios). Sua saudação é "Atotô Abaluaiê / Atotô Omolu", que significa "Silêncio para o grande rei da Terra".
Seu dia da semana é a segunda-feira e as cores associadas a Obaluaiê/Omolu costumam ser preto e branco, representando a dualidade entre a vida e a morte, a saúde e a doença.
Muitas vezes, são representados com contas pretas e brancas e um dos seus mistérios mais famosos é o banho de pipoca, que representa a pureza e a cura, já que a pipoca é associada a Obaluaiê, pois ela representa a transmutação. O milho duro sobre o fogo e o calor da panela estoura e transforma na pipoca macia - ou seja, são nas adversidades da vida que somos forjados e evoluímos assim como as lagartas que lutam para sair do seu casulo para se tornarem uma borboleta.
Filhos de Obaluaiê e Omolu: comunicativos e intuitivos
Os filhos de Obaluaiê são falantes e criativos, generosos, humildes, gostam de conversar, de serem o centro das atenções, odeiam a monotonia e lugares fechados. Já os filhos de Omolu são vaidosos, trabalhadores, intuitivos, amorosos, pacientes, sinceros e temperamentais. Aliás, não tem como não falar de Omolu sem lembrar e deixar um abraço e admiração a minha madrinha, filha de Omolu, que me iniciou e acolheu nessa religião que tanto nos encanta e fascina.
É importante lembrar que, no que se diz a respeito dos filhos de Omolu e Obaluaiê, podem variar de acordo com a doutrina e as vertentes da religião. Por isso, para saber quem são os pais e mães orixás, é preciso frequentar casas de axé e respeitar suas respectivas diferenças e tradições.
Vida e morte se complementam
Portanto, concluímos que a morte e a vida não são opostas, mas sim complemento um do outro. Se a porta de entrada da vida é o nascimento, a de saída é a morte. Durante uma jornada, nos deparamos diversas vezes com inícios e finais de ciclos, e Omolu e Obaluaiê são aqueles que nos protegem e guiam nessa trajetória.
É preciso que uma história se encerre para que uma nova possa surgir. Assim como o inverno é necessário para a primavera, a chuva é essencial para o crescimento das flores, o fim é fundamental para dar início a um novo começo.