Foi um casamento e tanto. Daqueles dignos, como se diz, de princesa, de cinema, de revista. Meses antes, o convite, de papel artesanal, puro bom gosto, já prenunciava: impecável, perfeito. De manhã, apenas para gente da família, no cartório. No final da tarde, quando refrescou, com aquela atmosfera envolventemente mágica do crepúsculo, na igreja da cidade do interior onde moravam os pais da noiva, onde ela tinha nascido e vivido muitos anos.
O hotel ficava colado à igreja, no quarteirão de baixo. Fiz a pequena caminhada, atenciosa, cuidando do meu salto em briga com as bonitas, mas agressivas pedras portuguesas do calçamento, e cheguei com 10 minutos de antecedência. Peguei um dos últimos lugares pra sentar, olhei ao redor e percebi que a palavra para definir tudo ali era plenitude.
As flores e as roupas, o vestido branco e o jeitinho maroto da daminha que trouxe a almofada com as alianças, o brilho nos olhos de todos e a boa música coral, a serenidade do sacerdote e o bom andamento da cerimônia, tudo, como eu havia sentido antes dos primeiros acordes da tão conhecida Marcha Nupcial, uma plenitude.
Na sequência, a festa, ou como falavam lá pelo interior, o festejo, entrou madrugada e foi além da plenitude, transbordou. Na fazenda, a poucos quilômetros do centro, à luz de tochas e velas complementadas por uma mágica lua cheia. Pratos, taças, risos, dança até cair naquele conhecido e animado carnaval, bolo maravilhoso, os clássicos bem-casados, café forte e bolachinhas para animar os corajosos que esperariam a alvorada. “Deslumbrante”, disseram horas depois no hotel, “aplaudida como o casamento todo”, comentaram com aquele cansaço feliz de uma longa aventura terminada.
Uma semana depois, quando a roupa que usei voltou da lavanderia, uma amiga me ligou com as novidades: inesperadas, estrondosas, chatas mesmo. Os noivos, sorrisos, abraços, brindes e beijos, saíram “à francesa” para a lua de mel dos sonhos, naquelas praias de areia branquinha, coqueiros, água azul quase transparente. Deveriam desfrutar 10 dias, mas voltaram na metade desse prazo combinado. Marcaram voos separados, não queriam mais qualquer contato entre eles.
Por mais que se queira evitar, desviar dele com otimismo, certos destinos espirituais são maldosos e incontornáveis. Não dá para escapar, não se enfraquecem, cobram preços amargos, doloridos. A postura correta é esperar os desdobramentos carmáticos. Aceitar que acontecimentos tristes integram um plano espiritual maior, misterioso frente às nossas singelas capacidades de entendimento. Seguir adiante, confiando que a vida se reconstrói mesmo sobre escombros. É o que desejo para o casal que generosamente nos ofereceu tanta felicidade.
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