Me questionam com frequência: “Vidência é um dom? Capacidade esotérica é um dom?”. Sim, claro que sim. Mas o que, no fundo, isso responde ou significa? Pouco, bem pouco. Por quê? Porque, a rigor, as inúmeras capacidades humanas, todas, sem exceção, são encantamentos, extrapolações da complexidade mística que caracteriza nossa posição cósmica.
Note que há mais riqueza numa plantinha que cresce agarrada à parede do que num planeta desabitado qualquer. Ou seja, seres vivos são muitíssimo elaborados, finos processadores de significados. Fazendo as prodigiosas coisas de que são capazes — nascendo, desenvolvendo, respirando, crescendo, multiplicando, pensando, concebendo, avaliando, sonhando, e por aí vai — as quantidades de informação processadas se mostram escandalosamente grandes.
Seguindo essa linha de raciocínio, “dom” é um dos muitos nomes que empregamos para tentar expressar esse arrebatamento magistral que vem como expressão do fato de sermos fazedores de encantos e maravilhas — nas coisas mais incríveis ou mais corriqueiras. Um harmonioso ikebana, preparado com esmero, ou os pratos do jantar bem lavados; uma sonata ao violino, ou uma história de ninar contada de coração. Para tudo isso — na verdade para qualquer coisa que envolva dinamismo e elaboração —, é preciso aguçar o dom.
Dom tem o professor e o médico, o lixeiro e o cozinheiro, o motorista de ônibus e o terapeuta. Sem dom as coisas se mostram incompletas, frágeis, flácidas, sem brilho. O dom confere às atividades uma força que as aproxima do sublime, da perfeição. Há quem tenha dom para cantar, há quem tenha para lavar o carro; há quem tenha dom para jogar futebol, há quem tenha dom para pregar botões, etc. Sempre, em todos os casos, fazendo algo com dom, o resultado final estará bem perto do ideal, merecerá destaque.
Também vale notar que o dom costuma ser um tesouro composto com modéstia. Uma pérola feita lentamente, com sacrifícios que se soma e, camada sobre camada, sedimentam-se lindamente. As pessoas que realmente possuem um dom, são, elogiavelmente, modestas em relação a ele. Nada de estardalhaços, nada de eu faço melhor, o melhor.
Dom requer essa maturidade de confrontar com nossas limitações, aprender que por mais alto que se tenha chegado, ainda resta muita montanha por escalar. Está-se sempre longe, bem longe do objetivo. É suficiente, mas há melhorar e aprimoramentos a serem conquistados.
Valorizar o dom, próprio e alheio, nos mantém humanizados na nossa essência. Seguiremos sendo gente de misericórdia, generosidade, perseverança, amor. Forças suficientes para a construção de um mundo melhor.
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