Marina e eu, eu e Marina. Um longo convívio. Nesses tantos anos de relação, quantas coisas vividas. Experiências. Realizações. Trilhas. Estradas. Desafios. Felicidades. Sóis. Chuvas. Auroras. Crepúsculos.
Sempre de mãos enlaçadas, eu planto para a colheita dela. Ela, em reciprocidade, empregando sementes diferentes, faz o mesmo para mim. Juntas, unidas, esqueço às vezes que somos duas, exatamente quando ela, também esquecida, única pensa ser.
Soldadas ambas. Marina percorre tantos caminhos, eu atrás, meus passos nos passos dela. Eu vou espaços afora, ela segue. Minhas aberturas são as aberturas dela. Trocamos animadamente de papéis. Ora eu sou o trilho, ela é a roda. Noutra ocasião roda eu sou, sobre o trilho dela.
De uma coisa não temos dúvida: longa viagem, melhor em boa companhia. Por isso aprendemos (e continuamos aprendendo a cada dia, renovadamente) como ser uma para a outra o melhor dos Fios de Ariadne, guia nos nossos respectivos labirintos.
Aperfeiçoamos tanto essa troca – brota de uma troca e gera outra troca –, que, afinadas, uma chega a saber o que a outra sente, pensa ou quer no momento mesmo (exatíssimo) em que a outra principia a sentir, pensar ou querer.
Trançadas, eu, mais do que eu, sou esse nós; ela, mais do que ela, metade indistinguível da trança, também é esse nós. Fusão de rio e barco navegando pelos segredos imemoriais do tempo.
Pêndulo que oscila, num momento é Marina que vive em mim, na sequência, ao inverso, eu nela vivo. Algumas vezes nos afastamos, distância que se abre para depois encurtar, abraço forte que enfraquece e, de fraco, se fortalece outra vez – ciclos que se renovam e renovam, repetidos nas tantas lições divididas.
Algumas coisas nos distanciam, outras nos agregam. Marina tem seus hábitos e preferências, eu os meus. Ela gosta do sal e do açúcar. Eu do sonho e da saudade. Ela gosta da música e do luar. Eu do mistério e do oculto. Em fusão, compartilhamos nossos tesouros, as rosas dos nossos jardins: remoto, perto; causa, efeito; forma, função; instante, tempo.
Diz o poeta Jorge Luis Borges, em texto alusivo à sua Alma (semente inspiradora para esse texto): “Não sei qual de nós escreve essa página”. Marina não carrega essa dúvida. Aqui, no xadrez misterioso do ser e do não ser; hoje, no tabuleiro do agora e do infinito, ela me permitiu escrever essa página. Ou teria sido o contrário?
E com você? Não acontece o mesmo?
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