Quando as coisas mudam para melhor é sempre construtivo. Eu gosto muito de J, amigo que tenho há muitos anos. Nossos pais foram íntimos e nos conhecemos quando ainda éramos meninos. O tempo passou e, deixando pirulitos e balas de lado, ele foi se tornando uma pessoa especial, de luz.
Se a vida pudesse ser comparada a uma daquelas famosas viagens de transatlântico mostradas no cinema, meu amigo estaria numa espaçosa cabine, acomodado no maior glamour: primeira classe, jantar na mesa do capitão, flores, caviar, champanhe todas as noites. Não lhe faltariam oportunidades para desfilar suas vistosas camisas e elegantes paletós.
Pessoa inteligente, conversa agradável, comportamento simpático. Sua visão de mundo reflete o que é: divertido, vivendo afastado, distante das preocupações e dos problemas comuns da imensa maioria.
Depois dos nossos encontros, marcantes, a sensação deixada era de que, para ele, as coisas não pareciam pesadas. Suas convicções sólidas, uso reto da razão, a prosperidade que o cercava, mostrava uma pessoa agarrada às suas convicções como quem tem delas perpétua propriedade.
No transcorrer de anos e anos, vez ou outra toquei – era de se esperar, já que ele também, vivamente, falava comigo de seus interesses – na questão da espiritualidade. Sem orgulho ele indicava que não via necessidade de tal procura, não precisava buscar as coisas escondidas nos céus quando tantos presentes se ofereciam por aqui, na terra. Eu entendia perfeitamente e, em tais ocasiões, quando conversávamos sobre esse assunto, o abraço de despedida que trocávamos era ainda mais respeitoso e fraterno.
Ele seguia navegando: sóis radiantes, luas cheias. Mas, vocês sabem, não há Titanic sem iceberg. Veio o inesperado, uma crise, sorte contrária, acidente feio. Ele me chamou, queria conversar. Preparei-me para, na melhor medida possível, ajudar – peguei meu estojo de primeiros socorros, meu canivete suíço multifunção.
Lá estava ele, em plena crise, casco avariado, iminência de tudo afundar, ser tragado pelas águas. Mas, surpreendente, ao contrário do que eu podia imaginar, mais forte do que nunca. Segredou-me estar usando, sob o paletó, sempre impecável, o colete salva-vidas da espiritualidade. Fiquei um pouquinho atônita: “você?” “É!” Simples assim.
Marujo destemido singrou os nevoeiros, adversidades, males, infelicidades. Hoje segue, cruzando oceanos, de porto em porto, aberto para outras verdades além das valsas e dos violinos, sem esquecer mais de seu colete: espiritualidade para sobreviver.
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