Sorte daqueles que lá estiverem: ilha afortunada e habitada por espíritos felizes. Entre borboletas coloridas e frutas sempre doces, sopra uma brisa agradável, mandada pelo oceano para refrescar os homens. Navegantes para lá rumam, mas o acesso é rigoroso, controlado. Poucos ganham permissão para passar nem que seja uma noite na ilha. Muitos retornam sem vislumbre dos poentes encantadores e alvoradas de plenitude.
No centro da ilha está um dos locais mais estupendos. Sobe-se margeando um rio de águas lisas e iluminadas até sua nascente numa gruta redonda cortada na pedra branca. A entrada é guarnecida por uma porta de bronze, presa por duas pesadas barras de marfim. No interior, sob uma abóboda de mármore amarelo, o som da água brotando é misterioso e inspirador. O chão é de verde relva e bem no meio fica a ampla cama de cristal de rocha, perfeitamente polida, transparente como a água da nascente que brota exatamente ali debaixo.
É sempre primavera na ilha. As videiras dão uvas doze vezes por ano, boas para confeccionar um vinho leve e agradável. No ar, o perfume delicado das macieiras se harmoniza com o dos pães assados – os alimentos de eleição em todas as mesas, modestos e deliciosos. Banhos de mar, caminhadas e exercícios de inteligência são as ocupações cotidianas. Nos dias festivos, sinos repicam e todos vestem seus trajes cerimoniais, seda fresca e macia em púrpura vistoso como o das labaredas.
Outra construção muito admirada é a Casa das Conversas, localizada ao norte da caverna do centro, ligada a ela por uma trilha de brilhantes safiras azuis, sobrevoada por bandos de grandes pássaros coloridos que, sempre silenciosos, transmitem uma intensa sensação de tranquilidade. A Casa é ampla e sem teto, as colunas e as pedras do calçamento são brancas. O amplo espaço interior é ocupado por inúmeras mesinhas com duas cadeiras confortáveis. As pessoas se acomodam, trocam companhia e não sentem o tempo passar.
Do lado oposto, no extremo sul, o Vilarejo do Porto fica acomodado num vale agradável. As ruas são arborizadas e terminam nas mais acolhedoras praias, com os mais sugestivos nomes: Dourada, das Rosas, das Crianças. Nos muitos parque, entre árvores, ficam as Casas para Sonhar. Pequenos chalés pintados de lilás. No interior, em leitos almofadados, mergulha-se em longos sonhos sossegados.
Curiosamente um dos sonhos corriqueiros ali sonhados é o do viajante perdido que chega a uma aprazível ilha de localização incerta em que o aguarda, exatamente, o leito no qual ele está e onde pode desfrutar, abençoadamente, dos mais arrebatadores sonhos.
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