Na alma de toda mulher há um resíduo de carência. Mesmo aquelas que garantem que não amaram, e não amarão jamais, que se dizem escaldadas, emancipadas e liberadas, mesmo aquelas, no fundo, no território mais escondido e protegido de suas individualidades, poderão, inconfessadamente, sentir-se abandonadas, censuradas e mal-amadas.
Traço feminino esse que aperta o coração e as obriga a se fingirem insensíveis, maduras e independentes, como se estivessem se inventando pelo avesso. Há as que se garantem traídas, e atormentam o companheiro, com suposições vagas e imaginosas, afastando-o para se sentirem seguras e neutras; as que se enaltecem tanto que, de tão poderosas, não podem dividir seus sentimentos com mais ninguém. Há as que se odeiam, se cobram uma beleza impossível de ser atingida, e não se aceitam como são; outras que se amam tanto, que não sobra espaço para amar mais ninguém.
Algumas são sempre vítimas, sem perceber suas imperfeições, as que são supersticiosas e não assumem suas culpas. Para elas são sempre os outros que desejaram seu infortúnio. Algumas são mandonas e não conseguem se controlar, outras que, com lágrimas e queixumes, enchem de culpa aqueles que só desejam viver em paz. Mulheres que tem o dom de transformar um caso de amor, em puro fracasso. Depois, se sentem vitoriosas, porque nunca mais terão de amar. Melhor estragar tudo, como a criança que destrói o castelo de areia, para ninguém nunca se apossar dele, do que correr o risco de perder.
Inspiradas por heroínas de novelas, são radicais. Ou é um amor estupendo, fora dos parâmetros do possível; ou não serve, melhor dispensar. Em geral, essas duvidam que um sentimento calmo e tranquilo seja a expressão de uma grande paixão. Pequena paixão não serve para nada, o cavalheiro não se contorce de amor? Então é um fraco, um aproveitador. Se ele, porém, expressa seu afeto, é porque alguma coisa ele fez de errado e está escondendo.
Sem parâmetros, sem equilíbrio ela prefere estragar tudo, só para não correr o risco de se magoar. Depois, o ser maligno é sempre ele, aquele que só quer viver em paz, ver um filminho no fim da semana, dar um presente no aniversário dela, talvez ter um filho ou dois, para criar com carinho, tudo na santa paz. Mas, não, a mulher quer provas mirabolantes de grande amor, e começa a impossibilidade, a falta de diálogo e final da relação.
Na verdade, o que é possível cogitar, é que a mulher não é bem esse ser de renúncia. Infeliz mesmo acaba sendo o homem. Vamos começar a lidar com essa possibilidade, com essa hipótese, e estaremos ponderando algo que – tanto no viés prático como no espiritual – será melhor para todos, homens e mulheres vivendo mais harmonizadamente.
Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.