É estranho o relógio dos apaixonados. Ele pula diferente do usual, já bastante dinâmico e infezadinho; se acelera, enlouquece, marcha em progressão alucinada, enfurecido não avança passos, botas de sete léguas, voa.
Nele o dia pode ser a hora, essa o simples minuto, tente agarrá-lo e escapará entre a percepção o átimo do segundo, mili, micro, nano. O outro batido “tic-tac”, ele supersônico, “zuuuuum”. O cotidiano, à hélice; a paixão, à turbina.
Quando tudo andava mais cadenciado, devagar e ritmado – a visita aguardada no chacoalhar do trem, a carta no porão do navio, o presentinho no lombo da mula -, mais alongada era a angústia da espera, espalhada em melancolia, solitude, devaneio.
Na atualidade espremida em instante pontual, agoras cada vez mais rápidos, sucessão estroboscópica, a espera deriva para desespera; o avassalador do instantâneo encobre o ritmo, o compasso, a sucessão.
Nas tramas do amor, o tempo que costumeiramente já periga descarrilhar, mais agitado e arisco, foge mercurial a qualquer controle, carrinho de montanha russa que desaba, não pode ser detido, vórtex de aflições.
Costumo atender gente assim, esganiçada. Ah, Marina, queria poder ficar mais com ele. Ah, Marina, queria poder dividir mais com ela. Ah, Marina, é um piscar de olhos e já precisamos nos separar.
Pena, mas nesse mundo ultra, pluri, poli abundante, só ele – Tempo –, imperador e soberano de todos e tudos, escasseia. O toque já é recolhimento. O quente já arrefeceu. O primeiro passo adiante já fecha a progressão.
Como domar pantera inquieta assim? A senda da espiritualidade nos ensina. Relevar, em época de quantidade, a qualidade, a intensidade, a densidade. Que cada pequeno instante, mesmo os menores, não sejam começos e sim formas acabadas da felicidade.
Não a felicidade propagandeada por aí, a verdadeira, sutil e elusiva, a felicidade possível, a felicidade dos possíveis, não a imagem dela (presente nas revistas e ilustrações, cenas de tv e anúncios), ela por si mesma e em si mesma.
Eis, caro leitor atormentado, meu convite de serenidade: no refestelar da paixão, esqueça o triste tempo rápido e cruel do ponteiro. Mergulha no devagar da alma, aprenda a buscar o pleno no vazio, o todo no nada. Assim, você verá, qualquer tempo compartilhado, breve flash, será absoluto como a própria eternidade.
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