Ah, o romance! Quando ele surge, tudo em torno fica pequeno. E como dá trabalho, não é? Ilusões, ressentimentos, apreensões abalam os relacionamentos. A surpresa não é o fracasso de muitos, mas, sim, o fato de que alguns consigam sobreviver.
Será nosso erro embarcarmos nas paixões com grandes expectativas, procurando amar com urgência e sofreguidão? Parece ocorrer uma situação estranha, inversa: quanto mais exigente a teoria, menos tolerante a prática — os amantes esperam do outro bem mais, mas estão dispostos a oferecer bem menos de si.
A culpa principal recai sobre a fantasia de que é fácil estabelecer um relacionamento. Apesar das avassaladoras provas contrárias, predomina a ideia de que o amor é moleza, apenas uma questão de apaixonar-se pela pessoa certa, aquela que imediatamente porá fim a qualquer dificuldade, solidão ou insegurança, oferecendo acolhimento eterno.
Esse equívoco é perigoso estímulo para fugir da responsabilidade, procurar a solução fora em vez de encontrar dentro as obrigações. Como cabe ao outro oferecer amor, quando a relação se esfacela, a culpa — inteira, sempre — é do outro. Afinal aquela não era a pessoa certa e a tarefa agora, sem pensar muito no sofrimento, é reiniciar a busca com a maior rapidez.
Incrível como aqueles que têm uma fila de fracassos amorosos raramente aceitam que são, no mínimo, parte do problema. A série de desastres é, na verdade, uma “garantia de sucesso da próxima vez”. Porque, depois de tanta frustração, a recompensa é merecida. Complicada precipitação, como a de um jogador esfalfado, apostando pesado na tentativa derradeira de recuperar perdas.
O problema maior surge quando, do outro lado da mesa, encontra-se um parceiro que também está apostando em desespero. Com impulsividade, ambos se atiram numa busca redentora, acreditando numa fusão que tudo curará, união mística de plenitude, cheia de promessas, presentes e favores. A família, os amigos, os colegas, tudo vai para segundo plano. Sem que se tenha plena compreensão, essa entrega total representa enorme perigo.
Esse tipo de dependência, excitante a princípio, acaba gerando mais ansiedade que a solidão. O dominador pensa que sempre terá o controle, o dominado que suas necessidades serão sempre satisfeitas pelo dominador. Todavia podem surgir problemas, os dois amantes ficam desnorteados — “como dá errado se me entreguei completamente?” — e a conclusão será perplexidade e raiva.
Como fazer? Da mesma maneira que nos comportamos na estrada quando a pista está molhada: reduzir a velocidade, redobrar a atenção, calibrar bem os pneus espirituais para apoio seguro ao rodar.
Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.
Veja também