"Eu tenho sete espadas pra me defender, eu tenho em minha companhia" e "Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge…". Mas, afinal, quem é quem: Ogum é São Jorge? O que tem do santo Capadócio no Orixá Nagô? Quando se vive em uma sociedade onde se precisa matar um leão por dia - ou melhor, um dragão - sem saber o que nos aguarda nas esquinas das ruas e da vida nessa encruzilhada cultural, clamamos por ajuda pelos caminhos abertos. Isso para que "meus inimigos mesmo tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem".
Ogum e São Jorge e a coragem que os seguem
Sendo assim, é preciso ter a coragem para enfrentar os desafio. Além disso, as ferramentas para que possamos abraçar as possibilidades. E, por fim, as estradas abertas para o sucesso - ou simplesmente não cair pelo caminho. Porém, antes de tudo, é importante entender quem é quem e quais suas características, individualidades e suas histórias. Isso para que não se coloque tudo no "mesmo balaio".
São Jorge
As pessoas o conhecem por ser um cavaleiro e ter vencido o mal através da face de um dragão. São Jorge lutou com a vida em nome de sua fé. Os romanos o caçaram e o perseguiram. Ele nos defende das injustiças e nos dá força para enfrentar os desânimos, os medos e a adversidade. Afinal, é um cavaleiro de Deus que luta pela justiça e pela esperança. Sua imagem se representa por ele montado em seu cavalo na lua.
Ogum
Divindade do panteão africano, as pessoas lembram de Ogum pela sua bravura e sua força. Seu nome em Ioruba significa guerra. É conhecido como orixá senhor das metalúrgicas, a quem tem domínio sobre as forjas. E o ferro e é quem traz as ferramentas para que a humanidade possa evoluir. Mas, como representa o significado de seu nome, também é conhecido como divindade das guerras. Aquele também que abre as estradas e os caminhos para que possamos passar. Ogum possui diversas histórias e itãs (contos do povo iorubá) sobre seus feitos e bravuras. Mas acima de tudo, ensina aos seus filhos sobre a impulsividade e vaidade. Afinal, é melhor aprender a observar as situações, pois nem tudo é o que parece.
Ogum e a história iorubá
Conta um dos itãs que Ogum, em seu ímpeto, matou todos os seus adeptos sem saber que os mesmos faziam voto de silêncio em homenagem ao seu retorno e vitória. Sentindo tamanha vergonha, o Orixá cravou sua espada no chão partindo ao meio e se jogou.
23 de abril: Dia de Ogum ou São Jorge?
No dia 23 de abril, comemora-se o Dia de São Jorge, mas no candomblé e na umbanda, comemora-se também o dia e a feijoada de Ogum. Contudo, apesar de carregar arquétipos muito parecidos com São Jorge, quando o povo nagô chegou em terras brasileiras, se viram obrigados a utilizar desse sincretismo forçado para poder cultuar seus antepassados e orixás. E como nosso processo de colonização ainda é tão forte e vivo nos dias atuais, o preceito e intolerância religiosa, ainda misturam a ideia de que Ogum é São Jorge.
Conexão e ajuda para São Jorge e Ogum
Para se conectar com São Jorge e pedir a sua ajuda, sua oração, muito popular, pode ser cultuada sem limites. Junto dela, é recomendado que acenda uma vela branca, pois o fogo traz a luz e é a forma mais antiga que temos de nos conectarmos, além de representar todos os deuses.
Faça a oração e, junto com seus pedidos, feitos de coração, peça ajuda e a intervenção de São Jorge.
Para proteção do lar, é muito famoso colocar a planta Espada-de-São-Jorge ou de Ogum nas entradas da sua casa para afastar e proteger de energias negativas.
Firmeza para Ogum para abrir os caminhos
Acenda uma vela azul ou vermelha (cada lugar tem como culto a Ogum em cores diferentes, então respeite a maneira que está acostumado a cultuar) e, ao lado, coloque um copo de cerveja, pois a bebida representa a pedida e a força dos guerreiros. Peça a licença e faça seus pedidos e agradecimentos.
A fé que move
Quando saudamos seja um ou outro, estamos saudando uma ancestralidade e acima de tudo Deus, criador e suas manifestações divinas. Por isso, assim como São Jorge foi perseguido pelos romanos, Ogum e toda a ancestralidade dos povos de matriz africana são vítimas de perseguição até os dias atuais.
Então, não podemos deixar que a luta de Jorge tenha sida em vão e não deixemos que a intolerância religiosa vença, pois um povo batalhador e guerreiro como o brasileiro, que tem sua história tão difícil e que ainda sofre pelos fantasmas do passado, ganhou não uma, mas duas divindades que lutam e intercedem por eles.
Que a proteção e a benção de Ogum e de Jorge possam tocar na vida e que todos os dragões das dificuldades e da ignorância possam ser vencidos, tendo alegria e vitória nos caminhos.