Vidente descreve experiência diante do túmulo de Allan Kardec

15 dez 2013 - 10h51
(atualizado às 17h41)
<p>"Nascer, morrer, nascer de novo... progredir sem cessar... é a lei"</p>
"Nascer, morrer, nascer de novo... progredir sem cessar... é a lei"
Foto: Getty Images

Sempre que o Natal se aproxima me lembro do melhor presente da minha vida. Acordei no meio do Oceano Atlântico. Estava contente: rumando para meu país, trazendo comigo uma experiência inesquecível. A lembrança de uma enorme rosa deixada no túmulo de Allan Kardec. 

Mesmo curta, tinha passado em Paris uma temporada repleta de passeios. Acompanhada sempre por um frio de dezembro, o nariz vermelho como daquela rena famosa, eu andava sem parar, vendo uma profusão de coisas.

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Finalmente me acomodei como pude na cadeirinha apertada, era final de tarde, lá fora tudo estava cinza e gelado. Cansada, para escapar da agitação de maletas, celulares, senta-levanta, avisos e bipes sonoros, fechei os olhos.

Relaxada, senti quando o avião rolou na pista e despregou. O zunido era uniforme. Depois do baque seco das rodas sendo acomodadas embaixo do assoalho, como o das caixas de sapatos quando arrumamos no armário, lembrei-me, um pouco antes de adormecer, da aventura daquela manhã.

Apesar da nevasca comentada por todos em tom de alerta – a apresentadora da TV, o porteiro do hotel, o moço do café –, pensei comigo: “é rara oportunidade, não devo desperdiçar... basta um pouco de coragem e vamos lá”. Desci para o calor do metrô e procurei no mapa o caminho para o Cemitério do Père Lachaise.

Saltei entre dois fios daquela enorme teia de aranha enterrada e, quase lá, provavelmente por conta da minha inquietação de turista, fui interrogada por um senhor mais ou menos da minha idade, vestido de preto da cabeça aos pés, cachecol e luvas. “O que vem visitar a Senhora para esses lados?”. Respondi, um pouco atônita com a cerimonia daquele “Madame”, no meu melhor franceguês, “O cemitério”.

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“Ah, Edith Piaf?” indagou. “Não, Senhor, Kardec”, expliquei caprichando no “Monsieur”. “Bem, então é melhor descer na próxima estação e não na que leva o nome do cemitério, usa-se outro portão e a caminhada é mais curta. Procure o túmulo 92, a Senhora verá placas”. Logo o trem parou, agradeci, despedimo-nos e desci.

Atravessando a rua estava o portão e, ao lado, uma banca de flores. Pedi uma bonita rosa e o vendedor, preocupado, apontou o céu de chumbo e disse que fechava, sem tempo, portanto, para cortar o comprido caule da flor.

Entrei naquele cemitério enorme, flor em uma mão, guarda-chuva na outra. Poucos passos e encontrei quem eu procurava. Li no alto, cravada na pedra bruta, a inspiradora inscrição: “Nascer, morrer, nascer de novo... progredir sem cessar... é a lei”. A neve começou a tombar.

Sabia que o café ao lado da entrada seria acolhedor, um croissant, um chocolate quente. Afastando-me, lembrei-me de uma passagem do Livro dos Espíritos. “Aquele que visita um túmulo, apenas manifesta, por essa forma, que pensa no espírito ausente”. Nesse momento tive vontade de dar uma última olhada, virei-me e vi, espetada como eu a havia deixado em um dos vasos, alta, a repolhuda rosa branca coberta por flocos brancos. O mais puro e precioso presente da minha vida. 

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Fonte: Marina Gold
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