As pessoas que trabalham com questões de segurança, em geral, adoram uma plaquinha de aviso. “Cuidado com o degrau”, “chão molhado”, “verifique se o elevador está parado no andar”, “atenção no corrimão da escada rolante”, e tantos outros. São expedientes úteis que diminuem o número de acidentes, abrem os nossos olhos para inúmeros perigos que se espalham ao redor.
Nas questões espirituais ocorre o mesmo. Estão distribuídos por ai inúmeros avisos chamando nossa atenção, indicando fragilidades, apontando para áreas complicadas. O problema é que não temos muito treino para ler corretamente esses avisos e, muitas vezes, acabamos tropeçando e caindo por pura falta de competência para entender uma mensagem de segurança que nos passou despercebida.
Em geral, nesses casos que destaco, o aviso é pequeno, homeopático, serve mesmo para tentar fazer quem o recebeu aprender a olhar para um panorama maior, o das coisas verdadeiramente consistentes, efetivas, importantes para a natureza humana.
Dou exemplo. Dia desses na garagem do prédio vi um adulto, homem barbado, extremamente irritado porque o vizinho de vaga, dando uma ré, quebrou o retrovisor. Simples peça de plástico, que seria trocada rapidamente (e sem ônus), não justificava o nível de inflamação e vozerio que acompanhei.
Tive pena. Como pode coisa desprezível assim tirar gente grande do sério? O entendimento da experiência havia sido diametralmente oposto àquele necessário. Coisas assim acontecem como aviso. Servem para revelar a provisoriedade de tudo, mostrar que não podemos confiar demais num mundo marcado por transformação, dinâmica e impermanência.
A forma correta de assimilar o episódio seria confiando menos nas aparências materiais – que se perdem, quebram, terminam, envelhecem, desgastam, somem, etc. – e mais nas certezas do espiritual – fixas, inquestionáveis, completas. Porém, a infantilidade que se espalha por todos os cantos gera um movimento regressivo que acaba parecendo muito estranho. As pessoas, apesar de todos os avisos, preferem a ilusão e a crença naquilo que não se sustenta ao invés de exercitarem posturas mais maduras que as levariam a outro patamar de compreensão das coisas e dos desafios.
Contudo, nada de desanimar. Os avisos são, por natureza, otimistas. Eles confiam que serão acolhidos e, assim, minimizarão riscos. No plano espiritual ocorre o mesmo: recebemos múltiplos avisos, podemos ignorar alguns, mas, cedo ou tarde, um deles faz sentido, abre nossos olhos e auxilia para que a vida fique mais leve.
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