Atendi recentemente G. Ele veio para a consulta exatamente no dia em que completava 18 anos. O pai dele, cliente de quem eu lembro com saudades, enviou-lhe, comovido, naquele momento de força e simbolismo, uma mensagem espiritual. É a seguinte:
“Filho, mais do que ninguém eu queria ver o portão se abrir e você passar para o “mundo dos adultos”. Com felicidade eu te receberia, compartilhando aquele abraço de sempre, o mesmo tantas vezes estendido à criança. Depois, como fazia com frequência, você me perguntaria: “O que o mundo vai oferecer?”
Ah, filho, eu, que tantas coisas não sei, esta também não sei. Mas imagino que seria possível, já que tudo é possível, que seja aquele mundo que eu desejo para você: um simples mundo, um mundo simples – no qual a única dificuldade seja o de que nada seja tão simples.
Filho, que seja um mundo de dignidade, de generosidade, de respeito pelos outros e respeito dos outros por você. Parece pouco, mas muita gente morreu por isso e é possível, já que tudo é possível, que você precise seguir com essa luta – que deve ser lutada! –, lutando ainda, por mais que ela se prolongue.
Filho, que seja um mundo de amor ao semelhante exatamente no que ele tem de único e diferente, de justiça, de piedade, de valorização da vida. Parece pouco, mas muita gente foi sacrificada por isso.
Filho, que seja um mundo de esperança, de consciência, de memória. Parece pouco, mas muita gente foi perseguida por isso.
Filho, mantém a certeza de que nada justifica a opressão, a crueldade, a indiferença, a fome que machuca as entranhas. Siga de coração grande, avaliando sempre pelo mínimo e natural. Ergue tua morada na modéstia, na serenidade, no gesto bom.
Filho, além de tudo isso, como te ensinei, continua concebendo um amanhã como algo que não é apenas seu, cedida não para ser exaurida, mas para ser tratada com cuidado... O mesmo cuidado que devemos ter com a lágrima, o suor, o sangue que corre nas veias; a nossa carne que foi outra e o amor que – para que pudéssemos viver – outros amaram por nós”.
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