Tempo difícil esse em que vivemos, época antiespiritualista. A existência válida, segundo ele, não é a que nos eleva, mas a que conduz à experiência das coisas materialistas: vida hiperexitada, de bulimia e vibração fortes. Escolhemos a emoção à contemplação, a dinâmica à tranquilidade, o grito ao suspiro.
Vai ficando mais e mais comum encontrar a reclamação de que esse nosso mundo está deserto, uma decepção. Não brotaria esse desencanto, justamente, do exagero e excesso, do caráter veloz e artificial de tudo? Da perda do ritmo correto dos afetos e das paixões? Paradoxal: cada vez mais sensações, cada vez mais anestesia da sensibilidade.
Nesse cenário, as práticas da vida espiritual – a antigas e consagradas – surgem como abrigo e refrigério, possibilidade de restituir um lugar ao sentimento do sagrado. Na devoção, na prece, na meditação, nas manifestações do misticismo, no contato com o mistério e a magia, em situações excepcionais que, despidas do racionalismo frio, permitem saborear o encontro com a beleza do cosmos, há na vida espiritual uma componente humano fundamental para esses dias de solidão.
A doxa atual enaltece demasiado o hemisfério cerebral esquerdo, lógico e analítico. A proposta da vida espiritual se contrapõe, equilibrando a balança. Valorizando o hemisfério direito, não permite que a intuição seja negligenciada, faculta uma importante força de descoberta e compreensão, habilitação e desenvolvimento.
Além disso, vale lembrar que a expansão da espiritualidade promove o aumento da solidariedade – outra das nossas grandes necessidades. Num contexto em que quase tudo se revela pelo exercício das funções cognitivas, o prisma místico é caminho privilegiado de ressonância íntima e ampliação da subjetividade, de incandescência enriquecedora no contato com os seres e as coisas.
É mais do que hora de entender que a música do mundo não brota apenas das teclas racionais. As notas de encanto, surpresa, êxtase, alegria, ressoam da interioridade, de uma completa consciência de si. Essas notas são afinadas pelo diapasão da vida espiritual, timbre para harmonizar nosso autoconhecimento, nossa identidade profunda, uma melhor e mais intensa relação com o prazer de existir.
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