Tudo flutua, baila, sempre em movimento. Lúdico, estético, transcendente. Cores, lampejos, transformações. Assim é o caleidoscópio. Objeto que pode ensinar muito a quem procura autoconhecimento.
Algumas continhas coloridas, pouco mais do que uma dúzia de grãozinhos, refletidas num espaço espelhado, criam uma infinidade de possibilidades...
Antes de explorar melhor essa idéia, uma rápida avaliação do objeto em si. O caleidoscópio, pequeno artefato, chama nossa atenção, nesse mundo entulhado de eletrônicos e eletrônicas, pelo seu aspecto artesanal. Ninguém sabe onde ou quem o produz. Carrega consigo a fama de não poder ser adquirido. É coisa que não se compra, se ganha. Torcemos, então, para que em algum momento da vida, alguém nos presenteie com um deles.
Apenas um pequeno tubo. Mas, instigante, parece convidar incessantemente: “venha ajudar a cumprir meu desígnio superior”. Hipnotizados, passamos, sem notar, horas a fio obtendo e perdendo, formando e reformando imagens. Repetição insistente, frenética, portadora de importante lição: a beleza, múltipla — já que cada volta do apetrecho pode revelar uma situação ainda mais colorida e agradável —, é também precária, marcada pelo provisório.
A estrutura em questão é metáfora perfeita da alma. Espelhos nos premiam com distintas possibilidades, renovadas e renovadoras. Mas, o que temos não é a essência e sim a aparência, uma aparência que transcende a matéria e faz o pensamento passear por caminhos desconhecidos. Porém, não esqueçamos, toda a riqueza visual que nos espanta nessa experiência é gerada, na profundidade, por partículas bem simples e comuns.
Estamos diante, exatamente, do mecanismo do nosso crescimento pessoal. Duas ou três modestas qualidades, um punhadinho de boa energia, uma migalha de serenidade, projetam, sobre nosso viver cotidiano, intensa e dinâmica fulgurância.
Preciso dizer mais? Vamos olhar a vida como um caleidoscópio e não como um taco de baseball ou marreta de demolição. Aceitar a fragilidade de ventania que pesa sobre tudo. Deixar que as coisas, mesmo as pequenas, nos deslumbrem. Aproveitar o êxtase de cada cena. Sorver, agradecidamente, o sagrado de cada gota. Toda essa magia embevecida entendeu a poeta paranaense Helena Kolody: “Rezam meus olhos quando contemplam a beleza”.
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