‘Mirtilo’ é a gíria escolhida para denominar uma nova moda que emerge: furtos realizados por jovens em grandes varejistas. A especificação do tamanho da loja alvo foi definido como uma espécie de “código de ética” do grupo para evitar comércios pequenos e locais.
Esse cenário, consequência da importação de uma prática internacional e que tem ganhado destaque nas redes sociais, com postagens de seus praticantes ostentando os itens furtados e, até mesmo, dando dicas sobre como driblar os aspectos de segurança nas lojas, traz para o varejo um novo risco, que deve ser devidamente tratado.
Mas como lidar com os riscos dessa nova prática? Em primeiro lugar, é preciso considerar o perfil desses novos criminosos, que são, em sua maioria, menores de idade e de classes média e alta. Ou seja, um grupo de difícil identificação, mas que pode levar prejuízos relevantes às lojas. Soma-se a isso o problema da banalização de um crime previsto no código penal, tentando transformar furtos em diversão.
Abrandar a leis piora a situação
A provável motivação dos ‘mirtileiros’ está ligada ao comportamento de massa, levando-os a cometer esses delitos para experimentar o desejo do pertencimento. Porém, a sociedade não deve permitir este distanciamento das questões penais sob o risco de entramos na trajetória que acontece nos EUA, onde, em cidades como Nova York, os furtos em lojas aumentaram 81% após o abrandamento de leis contra esse tipo de crime.
Dada a complexidade, os varejistas precisam, prioritariamente, investir em melhores práticas de segurança patrimonial que permitam a antecipação ao crime para evitar problemas gerados por repressões e lesões corporais, que, quando ocorrem, costumam trazer consequências reputacionais negativas às empresas.
Ou seja, é momento de revisão da matriz de riscos para melhor entender o problema e como lidar com ele.
Não é a primeira vez que vemos um movimento negativo de grande proporção nas redes sociais. Em outros momentos, houve movimentos como o do “rolezinho” nos shoppings ou desafios como da Baleia Azul, que induzia o suicídio. Portanto, as empresas responsáveis pelas redes sociais devem necessariamente ter o papel no banimento de conteúdos que desestimulem essas práticas.
E, apesar do varejo ser certamente a grande vítima desta moda, a preocupação deve ser da sociedade como um todo. Famílias, mídia, escolas e poder público, todos precisam ‘relembrar’ a esses jovens o que é certo e o que é errado e, neste caso dos ‘mirtilos’, apontar que se trata de uma nova prática de crime organizado no varejo.
(*) Fernando Fleider é CEO da ICTS, holding de empresas em soluções de prevenção de riscos, compliance e segurança.