A modelo Lea T, que gosta de se definir como mulher trans e não apenas como "modelo trans", desfilou na última semana para a grife de moda praia Água de Coco. Ela foi a segunda a entrar na passarela, após Sasha Meneghel, filha de Xuxa, que estava na primeira fila.
Sem desfilar há algum tempo, Lea T voltou para o Brasil e confessou, nos bastidores, que estava emocionada em cruzar a passarela armada no Mercado Municipal de São Paulo. A top, que já desfilou para marcas como a Givenchy, disse estava um pouco tensa. Lea fez duas entradas durante o desfie, em uma delas, com calça comprida e a parte de cima do biquíni. Na outra, com hot pants e blusa estampada.
"Mas todo o ambiente aqui é de muito respeito. A coleção é linda e estou muito feliz de trabalhar com eles. É importante ver que estamos ocupando espaços muito importantes. As marcas estão se conscientizando em relação à diversidade", afirmou ao Elas no Tapete Vermelho, enquanto seu cabelo era preparado para a apresentação da coleção verão 2020 da marca cearense, comandada por Liana Thomaz.
Lea T não se furtou em comentar sobre o momento atual em que o Brasil vive, falou sobre preconceito e sobre esperança. Confira:
Momento atual
"Péssimo, horrível, exaustivo, massacrante, triste. É essa sensação atual, mas o importante é não deixar apagar nossa resistência. O brasileiro se revelou intransigente agora, mas o preconceito sempre existiu. Sempre senti preconceito. E as estatísticas provam que o Brasil é o recordista em mortalidade da comunidade LGBT. É um problema muito grande no nosso país e essa intransigência revelada induz e incentiva ainda mais a violência, o que pode trazer mais perigo e riscos às comunidades."
'Conselhos' às trans e às cis
"É difícil dar conselhos a mulheres trans. Já me perguntei várias vezes o que eu poderia falar e sempre recebi mais delas. Aprendi muito com elas. Eu sei reconhecer minhas conquistas, mas o que falar para uma garota em total vulnerabilidade? É incoerente falar 'força'. Prefiro falar às pessoas cisgêneras (que se identificam em todos os aspectos com seu gênero de nascença). É preciso começar a refletir sobre o assunto, a ter empatia pela dor do próximo. Um discurso empático é importante para começar a reproduzir amor perante essas comunidades."
Repressão
"O racismo, a discriminação, a transfobia e a homofobia são coisas completamente interligadas com o sistema do planeta. Qualquer tipo de repressão de corpos e de privilégio aos outros faz com que esse sistema seja quebrado. E é o que está acontecendo no Brasil."
Esperança
"Tudo isso vai melhorar. Eu acredito no ser humano. Existe muita gente boa e, com isso tudo, mais do que nunca estamos nos unindo. Está-se se criando uma corrente de força de amor, de empatia. Os discursos estão mudando. As pessoas estão estudando e querendo conhecer sobre o assunto para poder defender a própria causa. Assim, automaticamente, você vai começar a defender as outras. Não se abraça uma causa, abraça-se todas.