O pantanal mato-grossense dever ser o ponto turístico mais visitado pelos torcedores que forem à Cuiabá este mês para os jogos da Copa do Mundo da Fifa 2014.
Estimativa da Secretaria de Estado de Turismo (Sedtur) aponta que pode dobrar o número de visitantes na região pantaneira. Agências de viagens acreditam que a preferência deva ser a região de Poconé (MT), onde fica o início da transpantaneira, porque é mais próxima da capital.
O ecossistema pantaneiro influenciou, inclusive, a arquitetura da Arena Pantanal, que vai sediar quatro jogos do mundial. O estádio tem aspectos de sustentabilidade, como quatro jardins com árvores que ficam nas quatro aberturas laterais.
Entre uma disputa e outra, mais de 70 mil pessoas estão sendo esperadas em Mato Grosso, boa parte para conferir uma das maiorias reservas naturais do país.
Para quem estiver em Cuiabá, o caminho não é longo e o início da transpantaneira fica a menos de 1h30 da capital mato-grossense. A transpantaneira é uma rodovia estadual, sem asfaltamento, justamente para não impactar tanto o bioma, cuja característica principal é o rústico.
De Poconé a Porto Cercado, a paisagem ao longo da transpantaneira já dá uma amostra da profusa, exuberante e exótica flora e fauna de uma das maiores áreas alagáveis de água doce do mundo, junto com o lago Baikal, na Rússia.
Quem garante tanta fartura de água doce são os rios Paraguai, Cuiabá e São Lorenzo, cujas dinâmicas ditam a vida dos habitantes pantaneiros entre época de cheia e seca.
O período agora é bom para visitação, porque às águas estão baixando, mas ainda se mantêm altas em alguns pontos. “Os turistas vão poder aproveitar a fluência dos rios e também dos bichos, que costumam aparecer mais na seca”, explica a bióloga Cátia Nunes, do Centro de Pesquisa do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Os bichos pantaneiros mais comuns são o jacaré e onça pintada. A arara azul, que é uma espécie em extinção, também pode ser vista junto às garças brancas. Outra ave bem exótica pantaneira é o tuiuiú, que tem corpo branco, pescoço vermelho e cabeça preta. O tuiuiú pesa mais de 30 kg, mas ainda assim consegue voar. A revoada das garças brancas são um espetáculo à parte, assim como o rosado dos colheireiros em bando. Mas o que as crianças mais gostam mesmo é do macaco prego, das capivaras e das ariranhas que, apesar de ariscas e perigosas, também parecem crianças brincando na água sempre coletivamente.
Pela estrada, nessa época do ano, é possível visualizar os campos de murundus, pequenos montes de terra produzidos pelos cupins, e os capões, que são ilhas cheias de matas.
O pantanal se estende por 250 mil metros quadrados, em territórios do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, da Bolívia e do Paraguai, considerados pela UNESCO Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera.
Mas nem tudo são flores no Pantanal. Quer for visitá-lo que leve, sem falta, uma camiseta de manga longa, de tecido fresco. A bióloga Cátia Nunes avisa que os insetos são muitos e nem sempre respeitam repelentes, coisa que não dá para deixar de levar. Além disso, o clima tropical continental mantém o tempo quente. Um chapéu e óculos podem ser indispensáveis.
Outra medida de segurança é usar botas, porque há muitos bichos no chão, inclusive cobras. A sucuri é a mais conhecida, mas a pesquisadora afirma que essa história de que as sucuris engolem uma pessoa inteira é pura imaginação. “Mesmo sendo lenda espero que ninguém vá fazer fotos abraçando animais”, adverte. Isso não deve ser feito, porque eles reagem às intervenções instintivamente.
Aliás, o que a pesquisadora destaca é que, embora não exista uma lei específica para regular o uso do pantanal, fica “proibido” jogar lixo na natureza e incomodar os animais.
Ana Claudia Bastos, diretora de Ecoturismo da Associação Brasileira de Agências de Viagens em Mato Grosso (ABAV-MT), observa que, levando em consideração as vendas provocadas pela Copa, essa visitação ao pantanal deve ser em tempo curto, ou seja, day use ou até duas noites no máximo.
Até agora, os japoneses é que têm mais procurado pacotes para o Pantanal mato-grossense. “Os orientais sempre visitaram o pantanal, mas, para os turistas das demais seleções que vão jogar aqui, acredito que a nossa natureza é bem menos conhecida e pode sim surpreender”, observa a agente de viagens.
Além dos japoneses, vão jogar em Cuiabá, chilenos, australianos, russos, coreanos, nigerianos e colombianos.
A antecipação das férias para junho em várias cidades devido aos jogos também está influenciando a visitação na região de Poconé.
Por conta do aumento da procura, os preços subiram mais de 100%. O day use, que custava em média R$ 180, saltou para R$ 290. Esse valor inclui transporte, alimentação e passeios.
Para passar o dia no Pantanal, a viagem começa antes das 7h, de van ou de micro-ônibus. Após 1h30 a comitiva chega à transpantaneira. Depois isso, o tempo de estrada vai depender da localização da pousada escolhida.
São mais de 20, dispostas na região de Poconé. As mais bem estruturadas são a Pousada do Sesc Pantanal e a Pousado do Mutum. As outras são consideradas confortáveis, pela ABAV, mas, conforme Ana Cláudia, talvez nem seja essa a principal preocupação de quem visita o Pantanal. “O rústico faz parte do pacote”, destaca.
No pantanal, os atrativos são, além do ambiente em si, cavalgadas, focagem de jacaré e passeios de barco. A comida também é um atrativo, em especial os peixes e o caldo de piranha.
Segundo ela, também serão muito visitadas, durante a Copa, a Chapada dos Guimarães e Nobres. Ao todo, de acordo com a Sedtur, as belezas do Mato Grosso podem atrair este mês até mais de 100 mil pessoas, principalmente devido à Copa e às férias antecipadas.