Às vezes pensamos: “Como queria ter mais paciência. Como queria poder reagir com mais neutralidade e discernimento em certas situações”. Mas quando analisamos, percebemos que apenas metade disso é verdade, pois lá no fundo existe um certo orgulho de também sermos impacientes, darmos lições nas pessoas que precisam receber lições e nos impormos na hora que precisamos nos impor.
A dificuldade que temos, na verdade, é a de acertar a dose, o momento certo, a oportunidade. Como nós, humanos, ainda somos aprendizes, às vezes temos paciência demais com coisas erradas e, por outro lado, firmeza demais com coisas que precisam de serenidade. No entanto, tudo isso é uma questão de arrumação, de aprendermos a lidar com os nossos equipamentos mental e emocional.
Imagine isso: as pessoas caminhando por um mundo lindo onde os ônibus chegam na hora, onde nenhum dos aviões faz barulho, onde todas as pessoas são gentis, ninguém fica doente e todos reconhecem os próprios erros. Assim, ficaria muito fácil de exercermos a paciência quando realmente fosse necessária. Se o mundo não nos desgastasse exigindo uma paciência forçada o tempo todo, o nosso tanque estaria cheio quando precisássemos de paciência e conseguiríamos usá-la com mais facilidade.
Só que não é isso que acontece, não é mesmo? Somos obrigados a gastar paciência com uma série de pequenas irritações no dia a dia, momentos em que nos sentimos sem força, sem voz, sem sermos ouvidos. E ao gastarmos a paciência naquilo que parece tão irritante, tão cansativo, tão inevitável, vamos ficando sem paciência para coisas realmente importantes, como quando alguém precisa de ajuda, uma criança que brinca, mas nos irrita, uma situação que precisa de parcimônia, temperança e posicionamento.
A paciência e as nossas expectativas
A paciência é algo que podemos ter em certas doses. Um dos segredos que aprendi vivendo muitos anos em um monastério é que a paciência está completamente relacionada às nossas expectativas. Como assim? Se alguém, por exemplo, chega atrasado no encontro que marcou com você e fala “cheguei atrasado porque fiquei muito tempo passando maquiagem”, você ficará muito bravo. Se, entretanto, a pessoa chega e diz “me atrasei porque machuquei o meu pé, tropecei, me cortei, estou mancando”, a sua reação muda completamente.
Portanto, o que esperamos do posicionamento e da atitude dos outros tem muito a ver com a nossa paciência. Somos impacientes porque, de maneira muito insalubre, muito danosa para a nossa própria paz interna, esperamos que o mundo seja de uma perfeição que ele não é. Esperamos que os ônibus sejam melhores do que são, esperamos que a chuva não caia justo no feriado, esperamos que as pessoas sejam coerentes e claras quando elas estão perdidas nas mentiras, incoerências e loucuras delas. O vão que separa a nossa expectativa da realidade está causando o gasto da nossa paciência.
Mas o que fazer para ter mais paciência no dia a dia?
Para termos paciência e podermos utilizá-la na hora certa, é necessário aceitarmos o presente e não compará-lo com o que achamos que devia ser o agora. Precisamos entender, por exemplo, que a humanidade que ainda não sabe fazer fluir uma energia, não saberá fluir carros e, por isso, nós temos engarrafamento de trânsito.
Aceitarmos a situação presente não é perdermos o poder de mudar o futuro, mas de aceitarmos aquilo que é. E ao aceitarmos, ganhamos novamente o combustível da paciência para utilizá-lo apenas onde for importante. Não precisamos ter paciência com uma criança que está sendo criança, ela é quem ela é; não precisamos ter paciência com uma chuva, ela é o que ela é. Precisamos ter paciência para nos posicionarmos corretamente perante alguém que pede ajuda, perante nós mesmos, perante o trabalho.
Paciência é um recurso estratégico e não adianta termos paciência esperando empurrar uma parede que não irá se mover. Paciência só é para ser usada com aquilo que podemos mudar. Com o restante, vamos aceitar. Para termos mais paciência, portanto, é importante pensarmos “será que eu estou tendo uma expectativa não realista?”
Aquilo que não podemos mudar não é necessário ter paciência, apenas aceitamos. Mas aquilo que podemos mudar, temos que nos colocar pacientemente, estrategicamente, para na hora certa, com toda nossa força e não desgastados, alterarmos o que for preciso. Paciência é uma potência estratégica, não a gaste onde ela não é chamada. Namastê!