Cirurgia plástica também é questão de saúde mental; entenda

Cirurgião plástico analisa como as redes sociais têm imposto um padrão de beleza irreal, afetando diretamente a saúde mental

7 out 2023 - 17h01
(atualizado em 8/10/2023 às 17h32)

A rede social mudou completamente a forma como nos relacionamos. E não apenas com os outros, mas também consigo mesmo. O uso excessivo das mídias sociais pode levar à sensação de comparação extrema, assim como os filtros podem estimular uma ideia irreal de perfeição. Esse padrão do que é ser perfeito leva, muitas vezes, à realização de cirurgias plásticas, expondo um impacto profundo na saúde mental.

Cirurgia plástica também é questão de saúde mental; entenda -
Cirurgia plástica também é questão de saúde mental; entenda -
Foto: Shutterstock / Saúde em Dia

Com o crescimento das mídias sociais, o que é normal, ou o que pensamos ser normal, acaba sendo o que vemos com mais frequência. E, hoje, o que vemos com mais frequência é uma presença massiva de pele retocada, olhos ampliados, barriga sarada, essa eterna juventude, aponta o Dr. Josué Montedonio, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

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Esses padrões começam a se tornar "normais" e, com isso, a percepção do próprio corpo também começa a se alterar. Na vida real todos temos defeitos, inseguranças, alto e baixos, dúvida, lembra o cirurgião. E, como não existem filtros fora das redes sociais, a alternativa mais comumente escolhida é recorrer a procedimentos estéticos - sejam eles invasivos ou não.

Impacto na saúde mental

Conforme o médico, é preciso tomar cuidado com os excessos. "Todo mundo busca ser bonito e isso é benéfico, mas estética tem os dois extremos. Ela possibilita corrigir imperfeições fazendo com que a pessoa tenha melhor autoestima, mas quando há uma distorção ou exagero, passa a ser prejudicial trazendo desconforto psicológico", alerta o especialista.

Josué explica que o problema começa quando a busca se torna patológica. "Essa busca incessante, que não é benéfica, se transforma numa obsessão, numa compulsão. A obsessão pela perfeição, na grande maioria das vezes, causa frustração, podendo desencadear o transtorno dismorfo corporal, onde a pessoa não se enxerga como é, potencializando imperfeições imperceptíveis e levando até a automutilação", adverte.

Segundo ele, esse ideal inatingível pode levar a distúrbios alimentares, psicológicos e sociais, podendo fazer com que as pessoas fiquem deprimidas. Tudo porque buscam atingir um padrão que não existe. 

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Fazer ou não uma cirurgia plástica?

"Como cirurgião plástico, muitas vezes atendo pessoas com expectativas de atingir determinado resultado irreal inspirado em alguma celebridade ou influenciador. E isso é impossível… Cirurgia plástica não é para atender expectativas irreais", destaca.

Primeiro, porque cada pessoa possui características únicas, explica o cirurgião, como o tipo de pele, hábitos de vida, peso, altura e genética. Além disso, ninguém é perfeito. Segundo que "copiar" algo de alguém também é muito complicado, enfatiza o Dr. Josué. 

"Na verdade, a cirurgia plástica visa corrigir imperfeições e não tem o intuito de fazer alguém igual ou melhor que ninguém, mas para "despertar" nossa melhor versão. Não é uma competição", diz.

Papel do profissional

De acordo com o cirurgião plástico, um bom cirurgião não se limita ao procedimento. Isso porque é imprescindível entender as expectativas de cada paciente, suas motivações e o que está acontecendo no momento. "É fundamental a certeza do benefício de que a cirurgia ou procedimento vai proporcionar uma melhoria. Além disso, é indispensável ficar claro que a beleza não possui um padrão", destaca.

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Segundo o profissional, são tempos difíceis para o desenvolvimento da autoestima com toda essa distorção do ideal de beleza. "Como médico, acredito que temos uma responsabilidade e um compromisso de mostrar o que é real, seus riscos e benefícios", ressalta.

Para o especialista, é imprescindível informar sobre todos os riscos relacionados a qualquer tipo de procedimento de forma muito clara, explicando as intercorrências que podem acontecer. Além disso, a atenção e o cuidado com os pacientes submetidos a qualquer procedimento precisa ser uma constante em todas as etapas do processo. Isto é, especialmente no pós-cirúrgico, onde os pacientes se encontram mais vulneráveis.

Repensando a necessidade de mudanças estéticas

O Dr. Josué Montedonio lembra que a população brasileira tem uma origem de uma miscigenação de povos; os indígenas, africanos e europeus. Portanto, a beleza nacional é diversa. "Com essa miscigenação é difícil estabelecer somente um padrão de beleza. Num país cuja imagem é a 'beleza natural', a valorização das técnicas cirúrgicas acaba sendo um paradoxo, ainda mais com toda essa banalização imposta pela mídia", alerta.

Para o cirurgião plástico, o resultado estético pode ficar em segundo plano. Além disso, muitas vezes, ao tratar transtornos dismórficos e alimentares, depressão e tantos outros problemas do tipo, a vontade de fazer um procedimento pode desaparecer. "A verdade é que nenhum corpo é errado, e os corpos foram realmente desenhados para serem diferentes", ressalta.

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